O fenómeno Trump avaliado através dos ETFs

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Michael Vadon, Flickr, Creative Commons

Observar como é que se têm movimentado os fluxos para os ETFs no mês em que Donald Trump ganhou as eleições nos Estados Unidos é um exercício muito interessante, já que permite saber quais são os medos e as expetativas dos investidores perante a chegada à Casa Branca de uma personalidade tão polémica como a que é encarnada pelo líder republicano. Neste sentido, o resultado das eleições dos Estados Unidos impulsionou o investimento em ETFs de ações norte-americanas devido às expectativas sobre as políticas favoráveis ao crescimento do presidente eleito. É o que mostra o relatório sobre a indústria ETP realizado pela BlackRock correspondente a novembro de 2016, que permite conhecer também a evolução por sectores ou segmentos de mercados concretos.

A este nível, as entradas de fluxos centraram-se principalmente em produtos cotados que oferecem exposição a empresas de grande capitalização, assim como o sector financeiro, que acabaram por beneficiar do achatamento da curva de rentabilidade e das expetativas de uma regulação menos restrita durante o mandanto de Trump. Os ETP centrados nos sectores farmacêutico, biotecnológico e da saúde também registaram entradas líquidas positivas. Desta forma, os produtos cotados de empresas de pequena capitalização e de perfil value norte-americanas também saíram bem desta situação ao beneficiarem das expectativas de uma maior inflação.

E nas obrigações?

As entradas nos produtos de obrigações registaram uma inversão da tendência, com saídas de 3.300 milhões depois de 16 meses de entradas de capitais, segundo dados da Lyxor. Estas saídas de capital afetaram principalmente a dívida pública, tanto de países desenvolvidos como emergentes (-1.309 milhões e -1.900 milhões, respetivamente), ao serem prejudicamos pela mudança nas expetativas das taxas de juro depois das eleições nos EUA. Os fluxos na dívida privada com classificação investment grade também se estabilizaram nos 319 milhões de saídas, depois de 9 meses de fluxos positivos, e uma média anual de 1.200 milhões, refletindo provavelmente as dúvidas dos investidores sobre a ampliação do QE.

De volta aos dados da BlackRock, é possível verificar que onde se sentiu mais o efeito Trump nas obrigações foi nos emergentes, e muito especialmente naqueles que se centram na dívida pública e na exposição a obrigações soberanas, países que vivenciaram saídas de capitais propiciadas pelo discurso protecionista de Trump e pela valorização do dólar. Os produtos cotados de obrigações do Tesouro norte-americano também sofreram saídas de capital devido ao retrocesso das rentabilidades provocada pela tendência reflacionista, enquanto os ETF de obrigações do Tesouro norte-americanos protegidos contra à inflação (TIPS) registaram um investimento positivo, prevendo a continuidade das pressões inflacionistas.