O Deutsche Bank nos fundos nacionais

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Björn Láczay

A crise financeira de 2008 veio impactar significativamente o funcionamento do sistema bancário a nível mundial. Mais do que isso, veio despoletar um processo que deixou às claras as debilidades das instituições que constituem a base do funcionamento de qualquer economia. O Deutsche Bank, o maior banco alemão, não ficou imune, refletindo também a elevada interligação que os grandes bancos mundiais têm entre si. Porém, mais recentemente, vimos as ações do banco a cotar em mínimos absolutos em resultado dos receios do mercado relativamente à qualidade da sua posição de capital e resiliência do modelo de negócio, especialmente depois do Departamento de Justiça norte-americano ter ameaçado com uma multa de 14.000 milhões de dólares pelo recurso a estratégias de venda inadequadas de ativos hipotecários.

É convicção do mercado de que o montante total será negociado para menos de 5 mil milhões de dólares, mais em linha com as provisões já constituídas em balanço (tal como outros bancos o fizeram), mas as negociações têm-se revelado infrutíferas. O banco gastou já 12 mil milhões de euros em processos de litigância desde 2012 e alega que pôs já de parte 5,5 mil milhões de euros para fazer face a esta potencial penalização. Depois de um pico atingido em julho do ano passado, as ações caíram já mais de 50% e o banco viu o seu valor de mercado reduzido de mais de 40 mil milhões para cerca de 17 mil milhões de euros esta semana. As receitas líquidas recuaram quase 21% na primeira metade do ano, de acordo com o relatório e contas interino do banco.

Enquadramento histórico

Já evidenciando necessidades de reforço de capital, em abril de 2014, o Deutsche Bank angariou 1,5 mil milhões de capital Tier 1, enquanto que somente um mês depois anunciou a venda de 8 mil milhões de euros em ações com um desconto de até 30% face ao valor de mercado. Em março do ano passado, o banco alemão falhou nos testes de stress, reforçando a necessidade de tomada de medidas para fortificar a estrutura de capital. Em Abril, perante o processo de litigância relativo à manipulação da LIBOR por parte de diversas entidade financeiras, o banco é confrontado com uma multa de mais de 2 mil milhões de dólares do Departamento de Justiça norte-americano.

O verão de 2015 marcou o início de um ciclo de correção que refletiu o reconhecimento do mercado da situação instável que a instituição financeira enfrenta. Em junho de 2015, o ex-CFO da UBS John Cryan foi nomeado co-CEO do Deutsche Bank e anunciou, no seguinte outubro, um programa denominado de Strategy 2020 que incluiu a suspensão de dividendos nas ações ordinárias, cortes de postos de trabalho e encerramento da atividade em 10 países. Um ano depois, em junho de 2016, o Fundo Monetário Internacional divulgou um relatório onde destacava o Deutsche Bank como “a entidade mais relevante para o risco sistémico no sistema financeiro global” e em julho seguinte, a S&P reduziu o seu outlook do rating sobre o banco alemão para negativo. No entanto, os últimos testes de stress efectuados pela European Banking Association ao sector bancário (julho 2016) indicam que o rácio common equity Tier 1 do maior banco alemão atingiu os 7,8% sob o cenário adverso, que mede a resiliência a choques económicos num período de três anos, em relação aos 11,1% que o banco apresentava no final de 2015. Há dois anos atrás, o primeiro rácio chegou aos 7%, partindo dos 9,2%. Desde então, muitos rumores percorrem o mercado acerca de uma possível intervenção no banco alemão, mas tanto John Cryan como o governo alemão têm desmentido essa possibilidade. Num recente artigo, o Financial Times reportou, inclusivamente, que o banco alemão está a trabalhar num IPO da sua divisão de gestão de ativos, para reforçar os rácios de capital.

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O Deutsche Bank nas carteiras dos fundos nacionais

Todas estas dinâmicas não passam ao lado dos fundos nacionais, já que alguns deles têm ou tiveram exposição às ações do Deutsche Bank. A plataforma Morningstar Direct indica que 10 produtos de domicilio nacional apresentam exposição ao banco alemão. Falamos de 10 produtos concentrados em categorias large cap equity e allocation (incluindo dois Planos Poupança Reforma), bom como um produto de enfoque sectorial. Cinco estratégias estão sob a alçada do Montepio Gestão de Activos, três da BPI Gestão de Activos e os restantes dois são geridos pela Caixagest e Banif Gestão de Activos.

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São os produtos geridos pelo braço da gestão de ativos do Montepio que, de entre os produtos domiciliados em Portugal, apresentam uma maior exposição a ações do banco alemão. Rui Nápoles, da entidade, destaca que “o investimento em ações do Deutsche Bank nas carteiras MGA com vocação acionista, reflete e enquadra-se, fundamentalmente, pela representatividade que esta instituição tem neste segmento de mercado”, pelo que “não foi assumida uma posição material e substancialmente divergente relativamente à relevância do emitente”.