Notas sobre China e Japão

Ricardo_Almeida
Maximo Garcia

A nova liderança política da China tem revelado, num espaço de tempo bastante curto, uma proactividade lúcida e consistente na implementação de medidas (inevitáveis?) no sentido de um maior equilíbrio entre o crescimento económico e a sua sustentabilidade. Quer no âmbito da Política Monetária (com a orientação do PBOC, a liquidez no mercado interbancário tem sido “racionada” tendo em vista a liquidação de alguns WMP – Wealth Management Products mantidos fora do balanço dos bancos), quer no âmbito de orientações directas de Política Económica (destacando-se a instrução detalhada para mais de um milhar de empresas estatais, pertencentes a vários sectores de actividade, cessarem linhas de produção), é firme intenção do governo chinês levar a cabo uma desalavancagem/reorientação da estrutura produtiva da China. A paragem de linhas de produção, e o posterior encerramento de empresas menos eficientes acabará por forçar o reconhecimento, por parte do sector financeiro, de níveis de crédito mal parado mais próximos da realidade implicando possíveis abates ao capital e disciplinando a concessão futura de novos empréstimos. 

No Japão, alguns dados recentes relacionados com a melhoria das exportações e com observações positivas para o índice de preços parecem evidenciar sinais embrionários de que as medidas levadas a cabo pelo BOJ começam a ter efeitos concretos na economia. Esmiuçando com algum detalhe, as exportações em volume estão praticamente estagnadas desde a implementação das medidas associadas à designada Abenomics, sendo meramente o efeito da conversão para Iénes a explicar o seu crescimento; a observação positiva do índice de preços é consequência do aumento violento dos custos dos combustíveis e da energia, também decorrentes da desvalorização do Iéne.

Resumindo: a China parece estar a implementar um conjunto de medidas coerentes tendo em vista um rebalanceamento entre Investimento e Consumo, aceitando para esse efeito ritmos de crescimento económico mais baixos no curto e médio prazo; no Japão, as autoridades parecem comprometidas em fazer mais do mesmo, evitando abordar questões estruturais que estão na génese de alguns dos seus problemas (rigidez do mercado laboral, excesso de capacidade instalada, pirâmide demográfica e necessidade de uma maior abertura à imigração, eventual reabertura das centrais nucleares para produção de energia).