“Não ser flexível é um dos grandes riscos que se incorrem atualmente”

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Cedida

Nuria Ribas Lequerica, fixed income investment director na Legg Mason Global Asset Management, não tem perspetivas diferentes em relação a muitos outros profissionais de mercado no que toca aos riscos que estão ao virar da esquina. Numa recente visita a Lisboa, a profissional destacou que pelo menos dois ou três riscos políticos são importantes de monitorizar: a situação política nos EUA a par com a Europa, e ainda o tema quente do Brexit.

Embora com uma mensagem positiva sobre o que transparecem atualmente os números do crescimento em termos globais, a profissional deixou o aviso de que continuam a ser um motivo de preocupação os níveis de dívida globais. Como é visível no gráfico abaixo, “os níveis de dívida por região tornam mais difícil e demorada esta melhoria dos níveis de crescimento, fazendo com que seja necessária a ajuda dos Bancos Centrais”.

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Outro dos indicadores que tem merecido o escrutínio nos últimos tempos por causa da sua evolução é, sem dúvida, a inflação. A profissional destacou que “a inflação parou o seu trajeto de declínio, começando a subir”, sendo “mais fácil lidar com um contexto de inflação elevado, do que um contexto de deflação”.

‘Keep an eye on China’... e nos EUA

A par dos riscos políticos no Reino Unido e outros países da Europa, Nuria Ribas Lequerica frisou um risco em particular: a situação na China. “Não nos podemos esquecer que a China é o principal parceiro comercial dos EUA, e a segunda maior economia global. Esperamos que o crescimento da China vá abrandar ao longo do tempo,  e devemos manter por isso uma especial atenção aos desenvolvimentos no país, pois um colapso na economia chinesa teria repercussões globais”, avisou. Nos radares dos investidores deve estar também a questão da “rapidez com que a dívida chinesa tem crescido”, pois “poderá existir uma potencial bolha especulativa no mercado imobiliário”. Mas o risco cimeiro a monitorizar, disse mais uma vez, são as relações comerciais com os EUA. “A política comercial de Trump poderá ter um grande impacto a este nível”, alertou.

Desta feita, a política comercial da nova administração de Trump foi outro dos riscos que a profissional fez questão de realçar. Frisando que “os EUA continuam com um défice comercial em relação ao resto do mundo”, alertou que o risco de um protecionismo excessivo deve ser considerado e olhado de perto.  

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Duration flexível

Para este contexto, a profissional trouxe a Lisboa a ideia subjacente à estratégia Legg Mason Western Asset Macro Opportunities Bond Fund. De forma a introduzir o produto, a primeira frase de Nuria Ribas Lequerica foi concisa: “Não poder ser flexível é um dos grandes riscos que se incorre atualmente”. Fez questão, por isso, de realçar o que entendem por flexibilidade na casa gestora. “Para nós ser flexível passa pela capacidade de agir rápido, de tomar posições negativas, e ainda a capacidade de poder ser tático”. Neste fundo em específico diz tentarem “providenciar o melhor retorno possível, sem ultrapassar um limite de volatilidade que é de 10%, numa base anual”. Portanto, trata-se de um fundo total return, de cariz flexível, “sem alavancagem financeira”, embora haja alguma alavancagem “implícita, resultante dos derivados usados para executar as posições curtas, alavancagem essa limitada pelos níveis de controlo que caraterizam os fundos UCITs”.

Numa perspetiva mais genérica, a profissional explicou que o portefólio se constrói numa base dual, em que de um lado estão os ativos de risco, e do outro as estratégias macro. “Dentro dos ativos de risco consideramos todos os ativos que apresentam um spread, como por exemplo o crédito high yield, o crédito investment grade, etc. Falamos de posições para manter no médio/longo prazo”, referiu. Prosseguiu referindo que até se chegar a esse “médio/longo prazo”, “há que fazer uso do dinheiro no mercado”. Nesta fase entra-se no âmbito das estratégias macro, que acabam “por ajudar na performance até que se chegue ao médio longo prazo” onde entra em cena a gestão da duration e/ou a gestão da volatilidade.

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