MiFID II: um ponto final ao ‘bar aberto’ do Research?

Nacho Gironella Thomson Reuters
Cedida

Acordas na tua cidade favorita da Europa, desces para o pequeno-almoço, e aí encontras o buffet livre onde está de tudo... esta é a metáfora perfeita para a forma como  os consumidores de análise se serviam na era pré-MiFID II, e isso acabou! E não sou eu quem o refere. Está patente no artigo 24, parágrafo 8, da MiFID II; “the investment firm shall not accept…any monetary or non monetary benefits…provided by any third party…in relation to the provision of the Service to clients…”.  

A Era pós MiFID II traz consigo várias mudanças, e entre as menos comentadas pelo mercado, está a do Research e outros serviços corporativos também executados pelos analistas. A ideia base: vamos passar de um menu buffet livre de Research e acesso corporativo, para uma dieta restrita onde cada grama conta – é o que é proposto pelo regulador.

A proposta da “European Securities and Markets Authority” (ESMA) de assessoria técnica submetida a consulta (ESMA Consultation Paper ESMA 2014/549: http://www.esma.europa.eu/system/files/2014-549_-_consultation_paper_mifid_ii_-_mifir.pdf) indica claramente que qualquer Research ou documento similar não pode ser considerado um lucro menor não monetário. Isto engloba o acesso privilegiado a analistas de investigação, relatórios ou modelos analíticos, “roadshows” para investidores ou serviços vinculados ao Research, como o acesso corporativo. A ideia proposta pela MiFID II é, para além disso, a da obrigatoriedade de fornecimento de uma política sistemática do gasto aplicado na análise e noutros serviços similares. Portanto, aos investidores finais deve-se comunicar não só o orçamento de Research, mas também reportar o critério qualitativo com o qual o Research é avaliado, a fórmula usada para alocar esse dito orçamento e o processo seguido para rever a qualidadade da análise recebida.

A nova era pós-MiFID II procura a máxima proteção e transparência para o investidor final, incrementando, a par disso, a concorrência entre analistas de forma a dar-se estimativas e recomendações mais ajustadas. Dois novos paradigmas abrem-se para os gestores: o primeiro é a criação de um orçamento específico em relação ao gasto que se fará em Research e acesso corporativo; o segundo, reportar a qualidade do Research e o porquê da alocação desse referido orçamento. Abrem-se portanto novas questões aos gestores. A principal: como orçamentar este novo custo? Será assumido pelas próprias gestoras, como já algumas entidades se apressaram a comentar na City – é o caso da Jupiter Fund Management, M&G, Woodford Investment Management ou da Baillie Gifford – ou imputarão esse custo ao investidor final? No caso dos analistas, as dualidades são distintas; Como controlar a distribuição da minha análise e outros serviços prestados? Como incorporá-la no preço? E como fazer com que a análise da empresa se destaque entre as restantes? Portanto, abre-se uma janela que permite começar a monetizar o Research separadamente da execução das transações.

As consequências já são visíveis no mercado; as equipas internas de Research começaram a crescer, enquanto que muitos analistas e casas de análise diminuiram ou então especializaram-se no segmento em que são competitivos e no qual podem realmente fazer lucro. Entretanto, as negociações entre provedores e consumidores de informação ficam marcadas, de certa forma, pela falta de referências.

Otimização do consumo de Research e da qualidade do mesmo como principal critério

“O critério mais importante para os gestores na hora de consumir Research é a qualidade do mesmo”. Isto é o que se depreende do questionário que a Thomson Reuters fez durante o primeiro trimestre de 2017, no que toca aos aspetos mais importantes que os gestores procuram na hora de eleger reportes de Research. Para além da qualidade do Research, os gestores têm em consideração a segmentação por indústria, para além da reputação do analista e o tamanho da entidade que o publica.

grafico_MiFID_II_Outra das consequências da MiFID II é uma mudança drástica no consumo do Research por parte dos gestores. Estes passam a recorrer menos aos analistas e a fazer um maior uso da informação gratuita. A otimização do consumo dos serviços que antes os analistas disponibilizavam gratuitamente é uma realidade que começa a ser sentida num mercado que se prepara para o contexto de MiFID II.