Mercados Fronteira à tona de água

Baldwin_Berges
Cedida

A correção ocorrida ao longo deste ano nos emergentes beneficiou os mercados fronteira que subiram à tona de água e passaram a estar no radar de mais investidores. Estes mercados são territórios novos e que sofrem de uma simplificação política relativamente à sua estabilidade. Baldwin Berges lança a pergunta se conseguimos enumerar três conflitos recentes em território africano, o que se revela uma pergunta difícil de responder, e se o conseguimos, fazer relativamente à Ásia, onde a resposta é automaticamente sim.

A verdade é que os mercados fronteira se dividem entre o continente africano e a região do Médio Oriente e excluindo alguns conflitos como o caso da Tunísia, Egito, podemos falar de estabilidade política e mesmo de regimes democráticos como a Nigéria ou Gana e, mesmo, o próprio Egito (embora uma jovem democracia).

Então onde a reside essa atratividade?

"Não necessariamente pela questão das commodities, pois esse é um jogo global que requer dimensão", afirma Baldin Berges. Nestes mercados e "para nós o importante é que (em África) falamos de 20% da população global, um bilião de pessoas, 700 milhões de consumidores e nesse sentido interessam-nos empresas de consumo básico, habitação, alimentação". Berges acrescenta que "mais de metade do orçamento familiar vai para bens alimentares".

Na região, a Silk Invest procura companhias locais, porque lhe atribuem mais valor dado que conhecem a cultura local e podem produzir localmente além de que vão para além dos nomes óbvios das grandes empresas sobejamente conhecidas.

Moçambique: um mercado com tudo, em formalização

A antiga colónia e província ultramarina de Portugal "tem uma base agrícola muito grande, tem minerais muito importantes, tem gás, petróleo, tem acesso ao Zimbabué, Maláui, ao Oceano, logo transforma-se num corredor de transporte e assim converte-se numa oportunidade bastante perfeita e que vai dar muito que falar na próxima década", acredita Berges.

No país e, no entender do especialista, o jogo deve ser feito através da procura de companhias locais mais uma vez no sector da alimentação e habitação. Inclusivamente, salienta o interesse registado por empresas sul-africanas, numa visita recente que realizou a África do Sul. O managing partner da Silk Invest sublinha ainda a rota diária já inaugurada pela Qatar Airways para Maputo via Joanesburgo, o que mostra mais um interesse de investimento estrangeiro. "Moçambique vai ser mais um dos darlings de África", conclui.

Relativamente a Angola, a comparação é que este país, embora a situação esteja a correr bem, tem uma maior concentração de poder e não houve uma iniciativa clara de lançar o mercado de capitais. Há que ter em conta que uma estrutura de mercado de capitais dá confiança ao próprio mercado, aos investidores pela responsabilidade e infraestruturas que se desenvolvem à sua volta. Nesse sentido, "Moçambique tem a oportunidade de ser mais pragmático", considera Berges. "No nosso caso, o único mercado onde investimos atualmente e onde não existe essa estrutura de mercado de capitais é a Etiópia". No entanto, consideramos que é muito bem governado.