Mercado europeu e a ressaca do BCE

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Francis Ellison,  client portfolio manager na Columbia Threadneedle veio a Portugal apresentar duas estratégias de ações de cariz europeu, num altura em que os mercados parecem atravessar um novo período de relativa calma.

Porquê a Europa?

Francis_Ellison_IIPara Francis Ellison, numa região em que se vê algum potencial de expansão de resultados decorrentes dos preços baixos do petróleo, a principal atratividade é o quantative easing que “deverá continuar a suportar os preços dos ativos, bem como a estimular o crescimento”. No entanto, “como quando se bebe muita cerveja aparece uma dor de cabeça, também quando terminar o quantative easing ninguém sabe o que se passará depois”, menciona o especialista. Contudo enfatiza que “até isso acontecer, este [o QE] deverá ser um suporte do mercado”.

Com os eventos políticos a representarem os maiores riscos para um investidor em ações europeias, Francis faz questão de mencionar o Brexit e as eleições em Espanha, mas também a proximidade das eleições na França e Alemanha, no próximo ano. Destaca especialmente que estamos a ver alguma “reação de protesto aos partidos mais tradicionais e a sua visão relativa aos movimentos migratórios do norte de África”.

“Acho que a economia europeia deverá comportar-se razoavelmente bem, mas não vai ser um crescimento dramático”, sintetiza o especialista, quantificando as expectativas de crescimento ligeiramente abaixo dos 1,5%. Na gestora estão positivos em países que têm mostrado uma fraca performance no passado, como a Irlanda e a Espanha, “que tiveram uma experiência muito difícil na pior fase da crise de crédito”. Mas a abordagem é muito mais bottom-up e o trabalho não se foca tanto nos países, como nas empresas desses países: “Tendencialmente gostamos de sectores onde vemos um certo número de empresas com posições fortes, vantagens competitivas e poder negocial, o que nos afasta do sector financeiro, por exemplo, onde a competição é grande e os clientes procuram o produto mais barato”. Já os sectores de consumo são muito mais atrativos aos olhos de Francis, que explica com um caso prático: “Quando ‘compramos’ um crédito hipotecário fazemos uma pesquisa exaustiva online para encontrar o mais barato. Já quando compramos uma cerveja queremos várias coisas: aquela cuja marca é ‘cool’, a preferida dos amigos, e aquela que ‘fica’ bem comprar”. Neste sentido, vê o sector cervejeiro como particularmente interessante considerando que “as melhores empresas estão apoiadas em marcas fortes e têm a vantagem de conseguir subir preços quando a inflação é nula”. Segundo o especialista “qualquer empresa que consegue subir preços, com o poder da sua marca ou tecnologia, justifica o pagamento de um prémio”.

O Brexit

Francis_Ellison_IRelativamente ao tema político do momento, Francis Ellison realça a sua importância, porque “afecta as pessoas, o negócio e os fundos em que investimos”. “Numa perspectiva económica há ‘drawbacks’ significativos numa saída da União Europeia, com implicações económicas no sector financeiro, sectores exportadores e nos britânicos que vivem fora do país, mas de uma perspectiva política não temos opinião”, destaca o profissional, salientando que “se a população quiser sair, teremos que trabalhar com isso”. Perante a questão “Poderá ser o Brexit uma oportunidade?”, a resposta de Francis é peremptória: “há sempre oportunidades, o Brexit criou algumas, mas outros factores também”. Os clientes veem a volatilidade como uma ameaça, mas na perspectiva do profissional, a volatilidade é sinónimo de oportunidade “porque leva os preços das ações para valores onde, de outro modo, não iriam chegar”.

Os produtos

No que se refere aos dois fundos de ações europeias apresentados, o Pan European Fund e o European Select Fund, o enfoque geográfico é semelhante, focando na Europa desenvolvida, embora o primeiro inclua também o Reino Unido no seu universo ‘investível’. Este é gerido numa base mais tática, com menor tracking error e uma menor expectativa de retorno no sentido que “relativamente ao índice, tomamos menos riscos”, refere o profissional. Já o segundo, “tem um aspeto muito diferente do índice e toma posições mais fortes”. São ambos, produtos de ações simples, “com pouca liquidez e sem recurso a hedging”.

Perante a questão de porquê escolher um ou o outro produto, Francis Ellison esclarece que, “oferecem acesso a universos diferentes. Um deles inclui o Reino Unido e se exclui este mercado, exclui o downside... e o upside, do Brexit. Por outro lado, o European Select Fund tem um objetivo ligeiramente superior de rentabilidade e tracking error, o que é conseguido através de um portefólio mais concentrado.”