Marca internacional: sinónimo de confiança?

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assortedstuff, Flickr, Creative Commons

Historicamente as plataformas nacionais que distribuem fundos de investimento sempre tiveram uma maior oferta de fundos estrangeiros comparativamente com fundos nacionais. A título de exemplo pode referir-se que os fundos domiciliados em Portugal constituem cerca de 2% da oferta do BiG, enquanto no Banco Best o número de fundos nacionais é inferior a 3% do total de fundos que disponibilizam. Também do ActivoBank, Guilherme Cardoso reitera que o negócio em fundos nacionais é “residual”, sendo que a entidade “foi pioneira na arquitetura aberta e na integração de casas internacionais na sua oferta”.

Os constrangimentos do verão passado no mercado nacional pode dizer-se que deixaram marcas na confiança dos investidores portugueses, já que precisamente a “confiança” é o valor que se vende nesta indústria. Ainda que as plataformas, como já referido, disponibilizem em muito maior escala fundos de casas estrangeiras, estarão os seus investidores menos confiantes em relação ao mercado nacional e às entidades portuguesas? Ou os clientes estão cada vez mais adeptos de uma lógica pura de diversificação geográfica e dispersão de riscos?

Rui Castro Pacheco, head of asset management do Best, começa por lembrar que “se olharmos para os maiores fundos nacionais, os fundos de maior dimensão vinham sendo os fundos de tesouraria  e de obrigações”, que “beneficiaram bastante nos últimos anos pelo facto de Portugal (e alguns outros países periféricos) terem vindo de taxas de juro muitas altas (spread face aos países core) para taxas relativamente baixas”. A conjugação do atual nível de taxas com um volume de volatilidade acrescida, “fez com que muitos investidores destes fundos supostamente de baixo risco tenham chegado à conclusão de que o retorno proporcionado já não compensava o risco de estar exposto essencialmente à periferia. A este nível sentimos de facto os nossos clientes a procurarem  alternativas mais diversificadas e outras estratégias  de investimento que as gestoras internacionais podem oferecer”.

Na perspetiva do profissional, “hoje em dia não faz muito sentido estar demasiadamente dependente de um mercado ou economia e é cada vez mais premente estar diversificado por tipo de ativos, regiões ou sectores que possam estar a atravessar diferentes ciclos de mercado”. Lança mesmo uma pergunta: “Os nossos rendimentos (salários ou pensões) e o nosso património imobiliário já estão de alguma forma expostos à economia portuguesa, porque não expor o nosso património financeiro a outras economias?”.

Procurar investimento nacional... em casas nacionais

Pela experiência do Banco BiG, Isabel Soares, refere que “a procura por fundos nacionais tem-se concentrado, sobretudo, nos produtos com exposição ao segmento acionista português (ainda que a oferta de fundos estrangeiros disponibilizados seja mais abrangente em termos de classes de ativos, estratégias de investimento ou áreas geográficas, não existem fundos de entidades internacionais focados exclusivamente no mercado nacional)”. Por esta razão que tem a ver com proporções, a gestora de produto do BiG entende que “não foi notória  qualquer alteração nas tendências normalmente observadas”, já que “os investidores que procuram por soluções que permitam exposição ao mercado português continuam a privilegiar este tipo de produtos”. Resume dizendo que “o facto de estarem em causa marcas nacionais não parece ser determinante, na generalidade dos casos, para a decisão de investimento”.

Escolha vai além da nacionalidade da casa gestora

Colocando-se na perspetiva de um investidor, Rui Castro Pacheco entende que “quem decide aplicar dinheiro num fundo de investimento faz as suas escolhas pelo tipo de gestão e alternativas que encontra, sendo a nacionalidade da gestora um factor secundário”. Também do Best reiteram que pela predominância de produtos internacionais na oferta torna-se  “natural que os clientes acabem por escolher maioritariamente fundos estrangeiros”.