Irão leva o petróleo a testar novos mínimos: Quanto tempo mais se pode prolongar a queda?

pre_C3_A7os_do_petr_C3_B3leo_
anekphoto, Flickr, Creative Commons

Um evento macro de grande importância ficou ofuscado pelo movimento do Banco Popular da China no mercado de divisas. Terça-feira da semana passada os inventários de petróleo dos países membros da OPEP alcançaram um máximo de três anos depois de se retomar a produção no Irão. Como consequência, o crude West Texas Intermediate (WTI, de referência nos EUA) caiu 3,7% para mínimos de cinco meses, roçando perigosamente os 43 dólares por barril. O Brent, de referência na Europa, perdeu a quota dos 50 dólares ao descer 2,42% até aos 49,19 dólares.

O fornecimento do petróleo iraniano impulsiona potencialmente a queda dos preços do petróleo. O Iraque e todos os países do Conselho de Cooperação do Golfo – incluindo o Bahrein, o Kuwait, Omã, o Qatar, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos – sofrerão porque o petróleo representa entre 60% e 80% das receitas governamentais desses países”, avisa Banu Elizondo, gestora da Invesco AM.

Ao materializar-se de forma continuada a queda do preço do petróleo por causa do aumento do preço da produção iraniana, a especialista indica que poderão beneficiar outros países importadores da região, como a Turquia, Tunísia, Egito, Líbano e Marrocos.

Elizondo também chama a atenção sobre o facto do Irão não ser apenas rico em petróleo, mas também em gás natural (o país possui cerca de 18% das reservas mundiais). Tendo em conta o crescimento da procura desta commodity na Turquia e nos Emirados Árabes Unidos, “se o Irão for capaz de aumentar rapidamente a capacidade com um significativo trabalho na exploração e produção, o fornecimento de gás natural iraniano poderá satisfazer uma boa parte da procura na região, com a possibilidade de se tornar menos relevante o oligopólio regional da Rússia e do Qatar”.

Da Franklin Templeton Investments, o guru dos emergentes Mark Mobius acredita, por outro lado, que o retorno da produção iraniana não vai mudar substancialmente a dinâmica do petróleo. “Apesar da renovada queda do preço do petróleo em julho de 50 dólares o barril tenha sido atribuída em parte ao acordo nuclear, é importante recordar que o Irão apenas tem 10% do fornecimento mundial de petróleo e nem sequer é um concorrente recém chegado ao mercado”, afirma, fazendo referência ao facto do país ter continuado a vender petróleo a países da região nos últimos anos. “As sanções contra ao Irão supunham que teriam que aceitar um preço mais baixo do que lhes agradava para o seu petróleo, pelo que a oportunidade de exportar mais petróleo a preços de mercado mais elevado, logicamente pareceu atrativo para o governo”, clarifica Mobius.

Do seu ponto de vista “é impossível dizer que mais petróleo exportado desde o Irão impulsionará automaticamente a queda do preço do petróleo”. “O elemento especulativo é mais crítico para determinar os preços do petróleo, tendo em vista o facto do mercado se poder mover em alguns momentos de forma extrema no curto prazo, sem relação com os fundamentais da oferta e da procura do petróleo”, declara o especialista.

Mobius indica que a visão da Franklin Templeton é de que “é mais provável que o petróleo suba do que baixe no longo prazo, porque são fortes as probabilidades de que continue a forte procura de petróleo em todo o mundo”. Acrescenta que, desde que o petróleo começou a descer a partir de máximos de 2014, fecharam os poços menos rentáveis nos EUA, pelo que “o gás de xisto nos EUA poderá ser um factor inferior daqui em diante, o que poderá compensar o aumento das exportações iranianas”.