Investir no MSCI World ou no S&P Index pode não ser suficiente

Ana Cruddeford e Ana Gil M&G
Cedida

O ano de 2016 foi um ano que ficou marcado por uma constante incerteza nos mercados, que se mantém ainda nos dias de hoje. A eleição de Donald Trump e o resultado do Brexit foram os eventos com maior relevância para o ambiente, marcado por um misto de optimismo e incerteza que se vive atualmente nos mercados. Mas de que forma impactaram estes eventos as estratégias e a atuação dos gestores de fundos? Na conferência Outlook nos mercados, a M&G analisou o ano de 2016 numa perspectiva macroeconómica e o impacto nos fundos M&G Optimal Income Fund e M&G Dynamic Allocation Fund.  

No que diz respeito ao fundo M&G Optimal Income Fund, que detém os selos Blockbuster e Consistente Funds People, Ana Gil, investment specialist da entidade, começou por ser muito direta: “Procuramos afastar-nos de mercados distorcidos como é o caso do Reino Unido e da Europa”, referiu, acrescentando que gostam “do mercado norte-americano, especialmente do ponto de vista da duration e do crédito”. Por isso mesmo têm vindo a mover-se do crédito do Reino Unido para o crédito dos Estados Unidos. Neste último mercado, dizem ter uma “preferência por investment grade em relação a high-yield” uma vez que a redução do risco do portfólio tem sido um dos grandes objetivos no último mês.  

O posicionamento atual da carteira reflete precisamente o foco na diminuição do risco. Assim, apesar do fundo oferecer a possibilidade de investir 20% do total da carteira em ações, possui, atualmente, apenas 3,9% de exposição a esta classe de ativos, precisamente pelo motivo atrás anunciado. A duration “é gerida de forma ativa”, e como tal foi reduzida de 2,7 para 2,4 anos. Apesar dos 3,9% de exposição a ações, Ana Gil é peremptória: “não somos um fundo multi-ativos. Só temos exposição a ações quando consideramos que a rentabilidade destas é superior à das respectivas obrigações”.

O sentimento do mercado nem sempre é um bom indicador

Por outro lado, para Ana Cuddeford, investment director da M&G, 2016 foi um exemplo perfeito do quão importante é fazer a diferenciação entre aquilo que os fundamentais transmitem, e aquilo que é o sentimento do mercado. Cuddeford utiliza a eleição de Donald Trump como exemplo: “se nos tivessem dito que Donald Trump iria vencer as eleições, teríamos posicionado o nosso portfólio de forma totalmente diferente e ficaríamos do lado errado do mercado. Isto é um exemplo fantástico de que, muitas vezes, o preço dos ativos não se comporta da forma como esperamos, mesmo que tenhamos previsto os eventos de forma correta”.

Do lado do M&G Dynamic Allocation Fund – fundo classificado como Blockbuster Funds People – a estratégia passa por se manterem fiéis ao processo que desenvolvem na gestora, “olhando para o contexto dos fundamentais e para o que os preços estão a dizer”. O modelo de valorização utilizado pela M&G, demonstra que, ao longo dos anos, a liquidez tem registado yields bastante baixas, “pelo que não tem proporcionado os níveis de rentabilidade desejados”. Por outro lado, o modelo demonstra ainda que um dos ativos mais atrativos são as ações turcas. Contudo, “ainda que demonstre que as ações turcas estão baratas atualmente, não quer dizer que apostemos nessas ações. Existe alguma instabilidade no país, pelo que é necessário olhar para os fundamentais”, destaca Cuddeford.

Relativamente ao posicionamento atual, Cuddeford destaca que embora tenham uma posição curta de 13% no S&P, não encaram negativamente o contexto da economia norte-americana. “De um ponto de vista dos fundamentais não observamos uma possibilidade de um choque económico neste momento. Consideramos é que o S&P numa perspectiva de valor global está caro, e por isso preferimos estar expostos ao mercado dos Estados Unidos através do sector bancário, petrolífero, sector das empresas biotecnológicas e do sector tecnológico”.

O impacto da duration negativa

Do lado das obrigações, existem algumas “dificuldades em encontrar valor nas obrigações governamentais do ocidente”, afirma Cuddeford. Desta forma, o fundo beneficia da flexibilidade de adotar uma duration negativa, que atualmente se encontra nos -2,4 anos. O posicionamento adoptado revela esta perspetiva, pelo que passa por uma “posição curta nas obrigações governamentais do ocidente” e, tal como no M&G Optimal Income Fund, por uma “exposição positiva ao mercado de crédito corporativo norte-americano”.

Destaque, ainda, para a posição longa nas obrigações governamentais portuguesas a 2 e a 3 anos, que se mantém desde o ano passado. “Acreditamos que as obrigações portuguesas têm vindo a refletir um certo prémio de risco político. Uma vez que existem outras obrigações da zona euro que não “compreendemos”, pois estão a pagar quatro vezes menos do que as portuguesas, e tendo em conta o contexto atual dos fundamentais, preferimos manter a exposição ao mercado português”, acrescenta a especialista.

Quanto aos drivers da performance year-to-date do fundo, indicam que este “beneficiou, precisamente, da duration negativa e do bom desempenho do mercado de obrigações emergentes”.

O futuro do investimento

Por fim, os especialistas da M&G acreditam que no futuro a forma como se investe terá que mudar, pelo que “os investidores terão que ser muito mais seletivos e dinâmicos na seleção de ativos. Já não é suficiente investir no MSCI World ou no S&P Index – alguns mercados de ações estão, claramente, mais caros”, conclui Cuddeford.