Investidor volta aos fundos de ações nacionais

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ZX-6R, Flickr, Creative Commons

Em Portugal, os últimos 20 meses foram plenos de diversos acontecimentos que delinearam o rumo do nosso país: desde o fim do programa de ajustamento, passando pela crise financeira, até ao anunciado 'fim' do Banco Espírito Santo. Os últimos tempos foram portanto marcantes para a sociedade e, sobretudo, para a confiança e o investimento em Portugal.

Porém, nem tudo são más notícias. Desde do início do ano passado que os ativos sob gestão dos fundos de ações nacionais seguem em rota ascendente. Os dados da Morningstar apontam para um crescimento, em termos agregados, na ordem dos 122 milhões de euros, cerca de 71,25%, totalizando aproximadamente 275 milhões de euros de ativos sob gestão, divididos por seis produtos da categoria assim definida pela APFIPP.

Em termos de volume, o Santander Acções Portugal é o maior produto, com 122 milhões de euros sob gestão, o que representa 45% do património total da categoria. Este fundo é também aquele que mais cresceu no período em termos de valores absolutos. O fundo da Santander Asset Management aumentou o seu volume sob gestão em cerca de 60 milhões de euros nos últimos 20 meses. Já os fundos BPI Portugal, Caixagest Acções Portugal e o ES Portugal Acções tiveram crescimentos, em termos absolutos, bastante próximos, com o valor a rondar os 15 milhões de euros.

Em termos percentuais, o produto da Banif Gestão de Activos, o Banif Acções Portugal, foi aquele que mais cresceu, com uma evolução positiva na ordem dos 234% para os 7,47 milhões de euros sob gestão. Na lista houve um outro produto que mais do que duplicou o seu valor sob gestão. Trata-se do ES Portugal Acções, da ESAF, que cresceu 108% para os 27 milhões de euros.

Subscrições ou valorizações? Eis a questão

Analisando os seis fundos de ações nacionais em termos médios , não se pode apontar um único “caminho” responsável pelo aumento patrimonial de cada produto, já que tanto as subscrições líquidas, como a valorização dos ativos dão o seu contributo.

Em termos médios os seis fundos cresceram mais de 20 milhões de euros, sendo que 55% desse crescimento se deveu a captações líquidas, enquanto os restantes 45% se relacionam com a valorização das respetivas carteiras. Ou seja, dos 122 milhões de euros de crescimento patrimonial entre janeiro de 2013 e agosto de 2014, existem 67,7 milhões de euros que correspondem a captações líquidas e os restantes 54,4 milhões refletem a revalorização das carteiras dos fundos.

Apenas um produto não conseguiu captar dinheiro durante este período. Trata-se do Millennium Ações Portugal, com resgates de 6,7 milhões de euros. Este valor poderá estar relacionado com o processo de venda, ainda em curso, da gestora ao Grupo CIMD

Ainda assim o peso das captações e o efeito de revalorização da carteira não foi o mesmo em todos os fundos. Analisando os dados disponíveis na Morningstar verificamos que o fundo da Banif Gestão de Activos foi aquele que mais aumentou o seu património pelo lado das captações líquidas. Ou seja, dos 5,23 milhões de euros de crescimento patrimonial desde janeiro do ano passado, quase 5 milhões de euros (cerca de 95% do aumento patrimonial) correspondem a novas entradas de dinheiro. Estas captações representam cerca de dois terços do património atual do fundo. Converte-se assim no produto - dentro do universo dos que investem em ações nacionais - que apresenta maior preponderância de dinheiro vindo da entrada de novos investidores.

Do lado oposto, o fundo do Santander Asset Management foi o produto em que as captações tiveram, desde o início de 2013, menos peso no crescimento total do património (cerca de 54%).

Em traços gerais, e olhando individualmente para cada fundo (ver tabela), pode dizer-se que na base do crescimento de património dos fundos de ações está, maioritariamente, o aumento das suas captações líquidas. Como justificação, pode apontar-se, entre outros factores, a parte final do programa de ajustamento da Troika, mas também o binómio comparativo entre a queda das taxas de juro e a subida do índice português, com o mercado acionista a ganhar naturalmente maior atratividade. Neste sentido, esta conjugação de factores fez com que  os investidores se sentissem relativamente mais “empolgados” em relação aos fundos de ações portuguesas. Saliente-se que de 1 de janeiro de 2013 a 31 de agosto de 2014 os fundos de ações nacionais tiveram um desempenho médio que ronda os 17%.

Os dados analisados

  Variação Patrimonial Captações Líquidas Revalorização da Carteira Captações Liquidas * Revalorização Ativos *
Banif Acções Portugal  5 233 430 €  4 966 273 €  267 157 € 94,90% 5,10%
BPI Portugal  21 574 786 €  15 335 200 €  6 239 586 € 71,08% 28,92%
Caixagest Acções Portugal  17 378 948 €  11 313 228 €  6 065 720 € 65,10% 34,90%
ES Portugal Acções  15 912 609 €  10 249 775 €  5 662 834 € 64,41% 35,59%
Millennium Acções Portugal  2 529 763 € -6 722 177 €  9 251 940 € -265,72% 365,72%
Santander Acções Portugal  59 548 201 €  32 567 521 €  26 980 680 € 54,69% 45,31%
Análise Funds People a partir dos dados disponibilizados pela Morningstar no período entre janeiro de 2013 e agosto de 2014
* percentagem na variação patrimonial do produto nos 20 meses analisados