Investidor português ainda não se revê nos fundos de distribuição de rendimentos

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As casas internacionais têm vindo a apostar cada vez mais em fundos que fazem distribuição de rendimentos. E em Portugal, como são vistos estes produtos? Têm caraterísticas para serem boas alternativas aos tradicionais depósitos? A Funds People Portugal falou com alguns selecionadores nacionais, de forma a entender se estes fundos têm sido ou não uma opção para os investidores portugueses.

Prémio ainda não compensa

Para Elisabete Pereira, do Departamento de Gestão e Poupança do BES, “os fundos de distribuição de rendimentos fazem sentido especialmente num momento em que o mercado obrigacionista, nomeadamente as obrigações de empresas nacionais, já não devolve o mesmo tipo de rendimento e os clientes ainda habituados a um passado recente de euforia continuam a procurar retorno”. A especialista explica que embora existam as mais variadas classes de fundos de distribuição de rendimentos, “na sua maioria acabam por ser  uma oferta que visa ser mais orientada para investimentos de curto a médio prazo, exatamente posicionando-se para serem alternativas a depósitos, têm um nível de risco inferior ao de fundos de obrigações”. Ainda assim, Elisabete Pereira alerta que estes são  “investimentos diferentes dos depósitos a prazo, mas para um perfil de cliente menos conservador, ou para uma parcela do investimento alocado a liquidez poderão ser uma alternativa de valor. A normalização do mercado de crédito ainda tem um percurso a realizar, facto muito evidente no mercado português”.

A profissional explica que apesar da distribuição de rendimentos ser uma temática core para muitas gestoras internacionais e não só, já que na oferta do BES existem dois fundos de distribuição (ES Renda Mensal e ES Rendimento), na casa “não têm sentido uma forte apetência por este tipo de produto face aos fundos tradicionais”. Para a especialista uma das razões, historicamente, tem a ver com o “prémio face à segurança e previsibilidade dos depósitos não compensar”, adicionando-se também “a questão da tributação que também é um factor inibidor”. Elisabete Pereira explica que esta situação faz com que “os volume de AuM se tenham mantido menos expressivos e logo não estarem tão bem posicionados nos radares das estruturas comerciais dos Bancos que os comercializam (são um tema não core ou satélite)”. Em conclusão, a profissional do BES refere que “a própria normalização dos mercados de crédito e das remunerações de recursos pelos Bancos a baixar pode contribuir, com uma dinamização bem estruturada, para um aumento de procura por este tipo de alternativas”. 

Oferta recente

No caso do Millennium BCP oberva-se que existem fundos de distribuição de rendimentos. No entanto, ao que a Funds People apurou junto da Wealth Management Unit, área responsável pela seleção de produto, esta inclusão é ainda recente e até à data a procura ainda não é significativa. Assim sendo, poderemos estar perante uma mera questão de “tempo” e não uma falta de atratividade do produto entre os investidores. 

Enquadramento fiscal importante

Catarina Roseira, do Santander, indica que “para determinados perfis clientes é uma variável relevante na selecção dos seus investimentos, o perfil de distribuição de rendimentos que originam as suas carteiras”. Por isso, a especialista explica que "a distribuição de rendimentos de uma carteira de fundos pode genericamente ser atingido de duas formas: a distribuição directa de rendimentos dos fundos que a compõe ou pelo resgate de posições / UPs”.  A profissional explica que escolher entre uma opção ou outra “deve ser equacionada tendo em conta o enquadramento fiscal de cada uma das alternativas e a aplicabilidade operacional”. Sublinhando que “os fundos de distribuição por regra não são uma alternativa a depósitos”, Catarina Roseira reitera que “apesar de ambos poderem ter uma distribuição periódica de rendimentos, nos depósitos a prazo têm o seu capital garantido pela Instituição Financeira enquanto no caso dos fundos, o risco varia consoante carteira subjacente e a volatilidade inerente"