Implicações para o investimento da ligação entre os mercados de obrigações de Hong Kong e da China Continental

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sptn., Flickr, Creative Commons

O investidor em ativos chineses está numa altura de sorte: apenas alguns dias depois da MSCI ter decidido incluir as ações classe A no seu índice MSCI Emerging Markets, o país acaba de anunciar o lançamento do Bond Connect, o mecanismo que permite o acesso a investidores estrangeiros ao mercado interbancário de títulos. Trata-se de uma conexão entre as bolsas da China Continental e de Hong Kong que replica a Stock Connect, a conexão entre as bolsas de Hong Kong e Shangai e Shenzen (que, aliás, tem sido um dos argumentos a favor da inclusão destas ações no Índice MSCI).

De acordo com informações publicadas pelo Financial Times, o Bond Connect permitirá o acesso a 9 biliões de dólares em títulos soberanos, de agências e corporativos, sem necessidade de dispor de uma conta onshore. O mercado chinês de obrigações é o terceiro maior do mundo em tamanho, mas apenas 1,25% do total está nas mãos de investidores estrangeiros. Claúdia Calich, gestora da M&G Investments, considera que a conexão dos mercados de obrigações “é outro passo gradual que tem dado à China a oportunidade de abertura do seu mercado nacional de títulos a investimento estrangeiro”. Segundo Calich, o Bond Connect “terá algumas vantagens operacionais face ao investimento direto onshore, no sentido em que não requererá ao investidor um custodiante local ou contas, nem o obrigará a ser sujeito a cotas ou a revelar antecipadamente quanto pretende investir”.

A especialista espera que os investidores estrangeiros invistam inicialmente em dívida soberana “em oposição à dívida de empresas estatais ou títulos corporativos, dadas as valorizações, as condições de liquidez e o facto de que, ainda, é um mercado incipiente”. Em troca, Calich considera que “os ratings não serão um fator chave para o investimento”, mas sim mais uma “visão sobre o Renminbi, os fluxos de entrada e saída de capital, a política monetária e o potencial de inclusão dos títulos soberanos denominados em Renminbi nos grandes índices globais de obrigações”.

Carl Shepherd, gestor de obrigações da Newton (parte da BNY Mellon IM), mostra-se mais crítico em relação à repercussão do Bond Connect: “independentemente do tipo acesso ao mercado que adotar, a China representa um mercado muito mais pequeno do que sugere a sua posição como segunda economia global”. Shepherd argumenta que a maior facilidade de acesso ao mercado de dívida chinesa “deveria ser vistas como inevitável”, embora reconheça que deverá ajudar a “proporcionar volumes maiores de negociação, o que por sua vez deverá impulsionar a liquidez, tanto dos títulos como da moeda”.O gestor apercebe-se do quão positivo é o facto de como a conexão dos mercados poderia ajudar a adicionar transparência ao mercado, ao incluir mais visibilidade sobre a contabilidade. 

Mark Tinder, responsável de ações asiáticas na AXA IM, comenta que este avanço “não vai criar a curto prazo grandes movimentos de dinheiro em ambas as direções”. Ainda assim, Tinker considera que vai servir como uma chamada de atenção aos investidores internacionais, ao lançar a mensagem de que “já não se pode fingir por mais tempo que a China não está a entrar no universo de investimento, quer se goste ou não”.