Harvard começa a utilizar ETFs na gestão do seu super endowment

Harvard
Niklas Tenhaef, Flickr

A adoção de fundos de gestão passiva por parte dos investidores norte-americanos está a acelerar-se. No final de 2016, 36% do total dos ativos geridos pela indústria nos Estados Unidos estava investido em estratégias indexadas. São cada vez mais os investidores que incluem estes produtos nas suas carteiras. Essa situação também já acontece com os institucionais, pois as suas carteiras já são uma mistura entre fundos ativos e passivos. O caso mais recente de adopção de ETFs por parte de investidores institucionais vem de Harvard. A Universidade de Harvard tem um fundo com aproximadamente 35.000 milhões de dólares em ativos, conhecido como o super endowment. O de Harvard gaba-se de ser o maior do mundo e representa 8% de tudo o que é movimentado nos endowments americanos (500.000 milhões de dólares).

A novidade em relação ao super endowment de Harvard é que, pela primeira vez na histórica, a principal posição do seu veículo de investimento é um produto de gestão passiva, concretamente um fundo cotado high yield da BlackRock: o iShares iBoxx $ High Yield Corporate Bond ETF. Lançado exatamente há dez anos, trata-se de um produto cujo objetivo é replicar os resultados de um índice composto por obrigações corporativas high yield denominadas em dólares dos Estados Unidos. Cerca de 81% dos ativos do ETF estão investidos no mercado americano, embora também mantenha exposição a Canadá (3,7%), Reino Unido (3,3%), Luxemburgo (2,6%), Holanda (1,8%), França (1,5%), Itália (1,2%) e Alemanha (1,2%). O êxito do produto tem sido muito notório, o que é demonstrado pelo facto deste contar com um volume de ativos sob gestão superior a 17.000 milhões de dólares.

O super endowment de Harvard tem-se destacado por ter sido capaz nos últimos dez anos de superar rentabilidades obtidas pelo resto dos endowments americanos. O seu fundo posicionou-se entre os dez melhores endowments, de um total de 800 que existem atualmente nos Estados Unidos. De tal forma que, durante os últimos 15 anos, a rentabilidade anualizada conseguida por Harvard duplicou a gerada por uma carteira mista composta 60% por ações norte-americanas e 40% por obrigações.

Harvard é uma instituição privada que se financia através de quotas que pagam os seus estudantes e dos donativos que realizam os antigos alunos. Em geral, essas quotas e donativos vão parar ao fundo de investimento. Com todo este dinheiro, a universidade faz frente aos seus gastos correntes, como os salários dos seus empregados, manutenção das instalações, bolsas ou pagamentos aos seus administradores. O gasto anual aproximado para cobrir os seus gastos ordinários costuma oscilar entre 3% e 5% dos ativos que as instituições têm nos fundos. O facto de terem muito bem definido o objectivo de investimento define a estratégia que seguem os endowments. Estes fundos, que na maioria dos casos apostam numa carteira diversificada entre as distintas classes de ativos, não têm um horizonte temporal pré-estabelecido. São estratégias perpétuas.

Os gestores destes veículos, que em alguns casos foram profissionais com grande reputação na indústria (Mohamed El-Erian geriu o endowment de Harvard), não alteram o seu posicionamento em função do comportamento que os mercados registam no curto prazo. A filosofia subjacente é a Teoria Moderna de Portfolios de Markowitz, que disse que a rentabilidade ajustada ao risco de uma carteira pode ser optimizada diversificando em ativos com distintas correlações. Para estes investidores, a alocação de ativos é o pilar básico e esta costuma ser muito estável. A rotação anual das carteiras costuma ser muito baixa. A única mudança significativa que realizaram ao longo dos últimos 15 anos os grandes fundos universitários foi a de reduzir o peso das obrigações (que desce de 16% para 10%) e duplicar a de ativos reais (cujo peso passou de 14% para 28%).