“Há tendência para sermos mais rápidos a reagir”

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Maximo Garcia

Um habituée das listas de fundos premiados, o ES Euro Bond, gerido por Vasco Teles, da ESAF, acumulou recentemente mais um “troféu”: o de melhor fundo estrangeiro obrigações euro no ano de 2013, atribuído pela Morningstar.

Numa nova entrevista à Funds People, o responsável pelo produto começa por observar que “o ES Euro Bond segue exatamente a mesma estratégia do ES Obrigações Europa e, portanto, não há distinção com origem em domiciliação”. No entanto, este facto que o coloque em pé de igualdade com outros fundos estrangeiros de renome, leva a que existam particularidades. “O facto de olharmos, também, para outra realidade mais alargada e competitiva, impõe outro tipo de análise de posicionamento, que acaba por influenciar a estratégia como um todo”, diz. “Por exemplo, há tendência para sermos mais rápidos a reagir, mais agressivos nas apostas e, naturalmente, mais influenciados por aquilo que observamos noutras geografias”, assegura Vasco Teles.

O processo de gestão do produto, segundo o gestor, “assenta nos procedimentos normais de toda a ESAF, na sua cadeia de análise e tomada de decisão”, e “passa nos crivos habituais de comité de investimento e posterior discussão em equipa do detalhe”. Num enquadramento que tem sempre em conta as tendências seguidas pelo mercado, sublinha-se que “a análise e estilo de gestão passam pelo valor intrínseco e relativo dos activos”.

Receio de deflação “ajuda” nos ganhos

Precisamente uma das tendências de mercado a que se tem assistido recentemente é a ameaça de deflação na zona euro. Sobre este contexto, o profissional começa por indicar que “a desinflação foi a grande responsável pela tendência de décadas de queda das taxas de juro”, e por isso, “para os produtos expostos as estes mercados como o ES Euro Bond, foi uma variável que permitiu que nas últimas décadas, quando analisadas agregadamente, as carteiras tenham tido comportamentos mais eficientes que aquelas dedicadas a outras classes, como por exemplo os produtos de acções”. O medo relativo à deflação tem sido no entanto um bom impulsionador para o fundo. “Os receios de deflação têm sido essenciais para as boas rentabilidades alcançadas por este género de produtos, pois têm posto pressão negativa, quer nas taxas de juro, quer nos prémios de risco dos países periféricos”, admite.

Vasco Teles faz ainda uma ressalva: “Há um mercado com cerca de 15 anos de existência de obrigações indexadas à inflação da zona euro, crescentemente importante e líquido, que permite aos investidores de obrigações governamentais tomar posicionamentos e visões relativos à evolução dos índices de preços, no qual o ES Euro Bond tem participado activamente ao longo da sua história”.

Fiel ao seu perfil

Depois de uma época em que os spreads da dívida pública foram importantes para este tipo de produtos, no que respeita a uma possível rotação na carteira, no sentido de um maior investimento em obrigações corporativas, Vasco Teles garante que esse movimento não vai acontecer. “O ES Euro Bond é um fundo dedicado a taxa de juro e soberanos zona euro. Pode, por regulamento, entrar noutros activos, nomeadamente dívida empresarial, mas sempre que o fez foi numa proporção marginal, de forma a não alterar substancialmente o perfil mencionado de fundo de governos, que é o que os nossos subscritores procuram”.

Evitar ambiguidades emocionais

O prolongado tempo de gestão de um produto pode provocar “estima” por determinadas posições que deram bons resultados? Na perspectiva de Vasco Teles, o desfazer de certas posições até então rentáveis exige preparação. “Devemos estar preparados para evitar qualquer tipo de ambiguidades emocionais, tanto mais que o tipo de processo de investimento, com etapas de reflexão de âmbito colectivo certamente atenua qualquer inconsistência desse género”. E dá um exemplo: “Em Julho de 2013, na sequência da iminência da queda do governo, anulámos totalmente a exposição a dívida de Portugal, posição que se arrastava como estratégia maior nas nossas carteiras desde Outubro de 2011”.

E se...

Obviamente bem sucedido na gestão do produto, num cenário hipotético de “troca” de responsabilidade na classe de ativos a seu cargo, o profissional entende que “dentro da classe obrigacionista há vários segmentos interessantes, nomeadamente dívida de países emergentes, que por razões de desfasamento de ciclo ou de maturidade, podem permitir capitalizar nesses mercados a experiência obtida em mercados desenvolvidos de taxa de juro”, conclui.