Grécia: desafios para as gestoras nacionais no curto prazo e reação dos mercados esta segunda-feira

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007 Lego., Flickr, Creative Commons

O resultado do “não” no referendo grego do passado domingo, abriu a porta a uma série de especulações sobre o que pode acontecer não só ao destino da Grécia, no âmbito da Zona Euro, mas também no que diz respeito ao posicionamento de outros países que passaram por situações similares à do país helénico. Nesse rol incluem-se obviamente Portugal e Espanha.

Contrariamente ao que os profissionais nacionais da gestão de ativos consideravam na semana passada, não foi o “sim” o resultado alcançado na consulta popular ao povo grego. Os cidadãos helénicos optaram por rejeitar a última proposta de Bruxelas, com uma participação que superou os 60%. As reações a “quente” não tardaram. O ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis,  apresentou a sua demissão do cargo por considerar que a sua ausência nas negociações irá facilitar um acordo, um caminho seguido também pelo líder da oposição grego, Antonis Samaras, que viu a vitória do “não” como uma derrota para o partido. Também outras vozes foram proferindo algumas opiniões sobre o resultado deste domingo.  O Nobel da Economia, Paul Krugman, por exemplo, na sua habitual coluna no New York Times, escreveu que “a saída da Grécia do Euro é a melhor entre as piores opções”.

O que moveu o povo grego: ótica dos gestores nacionais

Aquando do questionário que a Funds People Portugal propôs aos gestores nacionais sobre qual o resultado deste domingo, alguns dos inquiridos enumeraram as razões que estariam por detrás da vitória do ‘não’. Enunciavam, por exemplo, que “o povo grego está cansado de austeridade e de medidas impopulares de contenção de gastos”. O voto contra os credores, seria, nesse sentido, uma esperança relativamente ao futuro.

Também nas perspetivas para o segundo semestre traçadas pelas entidades nacionais, o tema Grécia foi sendo um dos mais referidos na componente dos receios para a restante metade do ano. Embora seja um acontecimento que de certa forma já está ser descontado pelos mercados, a saída da Grécia da Zona Euro é apontada pelos profissionais como algo “muito surpreendente” se se chegar a concretizar. Do Banco Privado Atlântico Europa proferiam por exemplo que “a saída da Grécia da Zona Euro seria de extrema gravidade, dado que condicionaria seriamente o projeto europeu a médio prazo”.

Considerando o cenário da Grécia fora da Zona Euro, os profissionais nacionais também veem esta hipótese como uma fonte acrescida de desafios ao trabalho que efetuam por causa dos eventuais efeitos de curto prazo. A confiança dos diversos agentes de mercado, referem, pode ficar abalada e colocar em causa a recuperação dos países da periferia.

Zoom da segunda-feira: Como reagiram os mercados?

Numa análise mais imediata, importa também olhar para a reação dos mercados no rescaldo do referendo grego. Rui Bárbara, gestor de ativos do Banco Carregosa, à Funds People Portugal referiu que esta segunda-feira “as quedas nos índices europeus – que estiveram entre -1% e -2% - não foram obviamente “agradáveis” de se sentir, mas acabaram por ser indícios positivos de que não existiu pânico nos mercados”, referiu, acrescentando que essa relativa calma também foi visível “nos valores das yields das obrigações europeias”.

Mais concretamente sobre o cenário de indecisão nas negociações, o profissional do Banco Carregosa, fez questão de sublinhar que “embora existam muitos riscos em jogo, a situação atual é muito diferente dos anos de 2011 e de 2012. Temos um Banco Central muito mais ativo, que impõe mecanismos que na altura não existiam”. A volatilidade continuará a ser denominador comum nos mercados durante os próximos dias, entende Rui Bárbara, que faz questão de frisar que “o atual contexto é encarado de forma diferente de há dois ou três anos atrás e, por isso, a hipótese de um contágio por via de falta de liquidez é uma hipótese menos provável.