Gestoras espanholas confiam na saúde da banca europeia apesar do caso BES

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G. Soriano Barceló, Flickr, Creative Commons

O Grupo Espírito Santo tem estado no centro das atenções e preocupações de investidores nas últimas semanas. Conforme referia no seu resumo semanal, Jorge Ramalho, “problemas com a sucessão, as relações com o BESA, uma auditoria que revelou "irregularidades relevantes", assim como a redefinição accionista, foram alguns dos temas que de repente foram colocados em praça pública e que colocaram o GES no epicentro das notícias e das preocupações dos portugueses”. A bolsa portuguesa tem apresentado alguma volatilidade adicional fruto da situação e os títulos do BES registam quedas sucessivas nas últimas sessões. Ricardo Salgado, José Manuel Pinheiro e José Maria Ricciardi ficaram, desde ontem, afastados dos desígnios de uma das principais instituições financeiras nacionais, passando, a estar na liderança Vítor Bento, José Honório e João Moreira Rato, na qualidade de presidente, vice-presidente e administrador financeiro, respetivamente.

Contudo, na indústria de gestão espanhola reina a tranquilidade relativamente aos últimos acontecimentos do Banco Espírito Santo.

“À primeira vista, é possível que o governo corporativo não tenha funcionado como deveria”, assinala José Caturla, CEO da Aviva Gestión, “como em qualquer entidade com dificuldades, é lógico que a equipa de direção que levou o banco a uma situação delicada seja substituída, independentemente de se tratar de família ou não”.

No entender de Javier Galán, responsável da gestão de ações euro na gestora Renta 4, quando ocorrem este género de vagas de notícias negativas, “torna-se indispensável alterar o rumo da empresa e a equipa gestora do banco”. Para isso, “primeiro é necessário reestabelecer a confiança dos investidores e quantificar a exposição relativa que têm accionistas e obrigacionistas do banco”.

No momento, como recorda Gonzalo Lardiés, gestor do Banco Madrid Ibérico Acciones“com os dados conhecidos até ao momento, parece que a solvência do BES não está em risco”. No entanto, adverte o gestor do Banco Madrid, “o impacto no seu capital pode ser importante”. Acrescenta que, à primeira vista, a hipótese de “um resgate implícito por parte do Estado parece descartada”. As tendências mais duras apontam, sobretudo, para as restantes empresas do Grupo Espírito Santo, onde “a situação financeira é muito mais delicada e o mercado desconta nas mesmas algum tipo de reestruturação”.

Sairá afetada a banca europeia?

Xavier Carulla, gestor da Caja Ingenieros Iberian Equity, é claro: “Não consideramos que a imagem da banca europeia saia prejudicada, dado que se trata de um caso isolado que denota mala praxis da equipa gestora”.

Apesar do caso protogonizado pelo BES durante as últimas semanas não se arrastar à mais saneada banca do velho continente, “também não ajuda”, reconhece Galán, consciente de que, no final do ano, chegam os stress tests do BCE à banca europeia, um exame que “deve ser exigente e verosímil”.

Para Lardiés, tratam-se de “problemas que o supervisor deveria ter tido em conta há mais tempo”. Apesar disso, acredita que estes acontecimentos teriam um efeito contágio superior se tivessem ocorrido há uns meses atrás perante economias e mercados financeiros periféricos em pleno processo de estabilização”.

O CEO da Aviva Gestión julga que a situação atual do BES “não deverá colocar em perigo nem o stress tests nem a revisão dos ativos levados a cabo pelo BCE” a partir do outono aos bancos da U.E., “salvo que apareçam mais informações prejudiciais”, sublinha.

Particularmente, salienta Carulla, “é provável que, a surgir perdas não cobertas”, os novos responsáveis do BES “se vejam forçados a realizar um novo aumento de capital”.

Nenhuma das quatro gestoras espanholas tem actualmente exposição a títulos do BES, conforme asseguraram ontem à Funds People. Em geral, a alocação a financeira europeias é reduzida. A exceção verifica-se apenas nalguns títulos da banca espanhola e algumas seguradoras europeias.