Fundos de obrigações nacionais: um olhar sobre o investimento em liquidez

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De abril para maio a situação vivida pelo mercado de obrigações foi de completa “confusão”. A gestão dos fundos que investem nesta classe de ativos teve claramente de se adaptar ao facto dos títulos em questão estarem a oferecer yields negativas ou extremamente baixas. Foram os próprios  gestores internacionais mais conceituados da indústria a admitir que se entrou numa fase de sérias dificuldades na gestão deste tipo de produto. Por isso, também muitos deles admitiram que o investimento em liquidez passou a ser uma alternativa mais viável... e segura.

Bill Eigen, responsável pelo JPM Income Opportunity, referia a este nível que contam “com grande liquidez para aproveitar novos períodos de volatilidade”. O reconhecido jornal inglês Financial Times assinalava também que neste momento de mercado a ideia passa por usar a liquidez como uma alocação estratégica, com a esperança de que os preços das obrigações caiam quando a Reserva Federal norte-americana comece a aumentar as suas taxas de juro.

Fundos de obrigações internacionais em destaque

No mercado nacional “o seguro também morreu de velho” e, por isso, denota-se globalmente uma tendência de aumento de investimento em liquidez nas carteiras dos fundos de obrigações. O último relatório mensal da APFIPP referente a maio demonstra que por exemplo na categoria dos fundos de obrigações internacionais as aplicações feitas em liquidez denominada em divisas internacionais cresceu 368% de abril para maio. Se no quarto mês do ano a totalidade destes fundos investia 278 mil euros nesta rubrica, em maio essa soma superou os 1,3 milhões de euros, o que se traduz num crescimento absoluto de 1,02 milhões euros. Desta forma a rubrica “liquidez” passou de uma predominância de 0,6% na carteiras em abril, para um peso de 2,5% no final do quinto do mês do ano.                                             

Embora numa dimensão bem mais reduzida também a evolução da categoria APFIIP dos fundos de obrigações taxa indexada euro reflete o aumento dos montantes aplicados em liquidez. A liquidez denominada em euros cresceu 6% no período em análise, ao passo que a liquidez denominada em divisas internacionais avançou 3% nos portfólios. Em maio, o peso desta aplicação nas carteiras roçou os 16% comparativamente com os 14,7% de abril.

A exceção: os fundos de obrigações euro

Situação inversa foi denotada nos fundos de obrigações euro. Nesta categoria, segundo relata a APFIPP, globalmente, os produtos registaram uma queda no investimento referente à liquidez denominada em euros, de 33% face ao mês de abril. Vasco Teles, da GNB Gestão de Ativos, e gestor do fundo NB Obrigações Europa, que se encontra inserido nesta categoria APFIPP, esclarece que “a gestão de liquidez  nos fundos de obrigações euro não é instrumental” e, por isso, não definem estratégias em relação a esta componente.

Clarifica que a variação da liquidez “é aleatória e depende do nível de resgates, subscrições ou compras e vendas de activos desfasados, por exemplo”. Explica que no caso do fundo que tem a seu cargo, normalmente atuam “com menos de 5% de liquidez, sendo que a variação desse nível em qualquer dos sentidos não implica subida ou descida do risco global da carteira”. Remata referindo que a “duração e a exposição na curva são as medidas para esse efeito”.