Finanças comportamentais: diferenças culturais no comportamento dos investidores

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RoySmiths, Flickr, Creative Commons

Desenvolveu-se um ramo das finanças comportamentais no âmbito da investigação cultural, que mostra como é que os padrões de comportamento diferem nas várias culturas que nos são familiares. A cultura financeira oferece uma base essencial para bancos ativos em todo o mundo e por boas razões. Apesar do avanço na globalização, ainda podemos identificar algumas diferenças culturais significativas no mundo. No globo falam-se cerca de 500 línguas, os hábitos alimentares variam de região para região e existem algumas diferenças nas nossas convenções sociais que devemos conhecer antes de cruzar o mundo. No entanto, a teoria financeira tradicional apenas reconhece a diversidade cultural internacional.

Segundo um estudo apresentado pelo Instituto de Investigação do Credit Suisse em conjunto com a Universidade de Zurich, intitulado de “Finanças Comportamentais: A psicologia do investimento”, existem diferenças culturais no comportamento dos investidores. “Atualmente, os investidores podem negociar (quase) qualquer tipo de título que desejem simplesmente pressionando algumas teclas de um computador. As finanças tradicionais também ditam que, no final de contas, todos queremos o mesmo: conseguir altos retornos sem assumir demasiados riscos”.

Durante 20 anos, os investidores em finanças comportamentais, tentaram determinar se, de facto, as finanças se encontram sujeitas às diferenças culturais. Mesmo se assumirmos que os investidores de todo o mundo estão centrados no binómio rentabilidade/risco, os investigadores acreditam que a cultura pode influenciar os investidores de forma diferente em termos do tipo de investimentos, prazos de investimento e aversão ao risco. “Em última instância, as finanças comportamentais mostram que ainda que só haja uma maneira de atuar racionalmente, existem muitas maneiras de o fazer de forma irracional. Portanto, não será exagerado dizer que a nossa cultura nos ajuda a determinar a que obstáculo psicológico estamos mais propensos a sucumbir”.

O que é a cultura?

Num sentido mais amplo, os autores do relatório afirmam que a cultura é tudo aquilo que é criado pelas pessoas. “Observar os tesouros artísticos do mundo é uma excelente maneira de identificar as diferenças culturais que existem e que podem continuar a existir em várias regiões do globo. A questão que se coloca é como é que se pode medir a cultura e fazer uma correlação numérica com algo tão mundano como é o comportamento dos investidores e os ganhos do mercado. Dado que o comportamento de investimento também faz parte do nosso comportamento social, podemos tomar como sugestões as dimensões culturais identificadas pelo sociólogo holandês Geert Hofstede”.

Como é que a nossa cultura molda o nosso comportamento de investimento?

No maior estudo mundial sobre as diferenças culturais relativas ao comportamento do investimento até ao ano de 2010, os professores Mei Wang, Marc Oliver Rieger e Thorsten Hens analisaram as preferências temporais, o comportamento de risco e as tendências de comportamento de quase 7.000 investidores em 50 países. Se agruparmos os resultados por região cultural, podemos chegar a algumas conclusões surpreendentes. Em primeiro lugar, os investidores nórdicos, bem como os alemães são mais pacientes, enquanto que os investidores africanos são os menos pacientes. Em segundo lugar, os investidores de países anglo-saxónicos são os mais tolerantes às perdas, ao passo que os da Europa Oriental têm a maior aversão à perda.

O estudo, especificado por países, mostra diferenças culturais fascinantes no comportamento dos investidores, e como é que essas diferenças podem até influenciar as rentabilidades dos mercados de capitais.

No que diz respeito às tendências comportamentais, observa-se que em todas as regiões culturais há uma alta propensão para se aumentar o risco depois de se perder dinheiro (necessidade de alcançar o equilíbrio).

Na maioria dos países existe uma tendência para se levar demasiado a sério acontecimentos altamente improváveis – sejam eles amplamente positivos ou negativos. No primeiro caso, as fantasias sobre o que as pessoas poderão fazer com esse resultado tão positivo são tão tentadoras que as levam a esquecer-se da alta improbabilidade desse acontecimento acontecer. No segundo caso, a ansiedade acerca de um evento com um resultado muito negativo é tão preocupante que as pessoas não se chegam a dar conta do quão improvável é.

Estes resultados indicam também que existem diferenças culturais no comportamento dos investidores. Deve investigar-se se, na medida em que a globalização continue, se estas diferenças diminuem à medida que as nossas diferenças de linguagem, hábitos alimentares e costumes sociais também diminuem.