Factores conjugados para mais um rally nas ações europeias?

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“No início do ano referimos que estávamos à espera de retornos de dois dígitos nas ações europeias para 2015, e  isso tem-se verificado. A questão que se coloca atualmente passa por perceber para onde caminhamos?”. Esta é a pergunta que Fiona English, a client portfolio manager da Pioneer Investments, considera ser fulcral analisar.  

Desta forma, salienta alguns dos tópicos e questões proeminentes  que a gestora tem debaixo de olho no trabalho que executam. “Os retornos a que temos assistido desde o início do ano são basicamente provenientes do dinheiro de investidores norte-americanos”, sublinha, como primeira tendência a ter em conta. O segundo factor, diz, está relacionado com a capacidade de “entregar retornos acima das expectativas de consenso do mercado”. Lembra que logo no início de 2015, os economistas da gestora previam para o novo ano um crescimento do PIB de 1,6% na Zona Euro, o que “soava como algo absurdo e irreal”. O que era pouco provável está muito perto de se tornar uma realidade, assegura a profissional, que refere que atualmente se assiste a “uma manutenção do momentum económico na Zona Euro, embora à medida que 2015 vá progredindo talvez este se possa tornar um pouco mais irregular”.  

Quantitative Easing impulsionador dos lucros, mas...

Nesta onda de positivismo, Fiona English não esqueceu o papel do Quantitative Easing (QE) e espera que este não termine no próximo ano, mantendo-se até final de 2017. “No QE do primeiro semestre assistimos finalmente aos lucros a superarem o mercado, o que significa que o mercado começou a remunerar as ações com melhor comportamento, passando a punir os piores títulos. Não tínhamos observado ainda a este tipo de dinâmica até agora”, clarifica. No QE2, atesta que o principal risco é que os lucros desapontem. “O QE1 foi exatamente aquilo que eu esperava que fosse. No caso do QE do segundo semestre, se os lucros desiludirem a partir de julho, quais serão os motivos para que os mercados subam? Não vai ser com certeza o BCE a dar esse suporte, muito menos os preços do petróleo, ou uma subida das taxas de juro, que não está para breve na Europa”.

Rally nas ações europeias para breve?

O mercado tem, de facto, mostrado sinais de resiliência, que são apoiados “pela maior capacidade de consumo das pessoas”, mas também por factores como “a maior oferta de crédito dos bancos”, ou “a melhoria das expectativas relativas à inflação”.  Desta forma, Fiona prevê que a consolidação do mercado demore mais algumas semanas, sendo que no segundo semestre é provável que se assista a um rally nas ações europeias, que, desta vez, “mais do que guiado pela liquidez, será impulsionado pelo crescimento dos lucros”. Por causa desta vertente de crescimento, a profissional acredita que é necessária uma maior atenção à correta seleção de títulos , já que “as empresas vão ter de justificar a sua valorização”.

Outro grande impulso para o  mercado será proveniente de mais uma área em específico: as fusões e aquisições. “Temos assistido ultimamente a uma importante atividade na área de M&A. Exemplo disso foi a compra da BG pela Shell, a oferta de compra feita pela Monsanto à Syngenta, etc”, diz. “Estamos também a assistir à chegada de um grande montante de dinheiro vindo do private equity. Já não víamos as empresas de private equity norte-americanas interessadas na Europa desde 2007”, recorda a especialista.

Temáticas de investimento

A equipa de gestão de carteiras da Pioneer identifica três grandes temáticas que têm vindo a desenvolver desde final de 2014 com êxito. A primeira é a aposta em títulos cíclicos em detrimento dos defensivos. Aponta mesmo que “já posicionaram os portfólios para que beneficiem da retoma das empresas cíclicas”, porque as ações defensivas já esgotaram o seu potencial de subida. Na perspetiva da especialista as ações cíclicas “apresentam um perfil mais elevado de crescimento de lucros, e as suas valorizações  são mais convincentes”. Vai mais além na diferenciação executada e aponta igualmente distinções em termos de capitalização. “As small caps vão continuar a bater as empresas maiores porque estão a passar por uma situação única. Existe muita liquidez e apetite por M&A, e apresentam balanços tão saneados como as grandes”.

Com os lucros a crescerem, o crescimento da retribuição interpõe-se como a segunda temática a assinalar. A representante da Pioneer indica que em 2014 muitos investidores compraram empresas sem fazer grandes distinções, mas agora estão a centrar-se mais em negócios cíclicos com capacidade para fazer crescer os lucros de sectores, como o de materiais básicos, industriais ou o consumo discricional.

O terceiro tema está relacionado com o regresso da volatilidade. Fiona English recomenda precaução e que se utilize as oscilações como uma vantagem competitiva.