EUROEXIT: A Monetary “Winter is Coming?”

Jorge_Botelho_BBVA
Vitor Duarte

Não será muito difícil identificar quais os riscos que vão estar presentes nos próximos tempos nos mercados financeiros, a tarefa complexa será majorá-los corretamente. Estamos preparados para muita coisa, dispostos a fazer as melhores análises, mas nem sempre nos apercebemos do que está a ocorrer à nossa frente, sendo que o EUROEXIT poderá ser um dos riscos menos bem avaliados atualmente pelos mercados financeiros.

A introdução do Euro em 01 de Janeiro de 1999 foi vista por muitos como uma precipitação e como um dos maiores erros de palmatória desde os primórdios da criação da União Económica, ou seja, desde a constituição da organização de defesa e segurança entre Estados membros no pós-guerra e da celebração do Tratado de Bruxelas, que deu espaço à formação da Comunidade do Carvão e do Aço em 1951.

A razão deste pessimismo relativo à criação da moeda única até parece intuitivo, uma vez que não estavam devidamente acautelados os princípios de uma integração política para que houvesse uma realidade monetária. À luz do que hoje supostamente constatamos, a introdução do Euro foi como aquela casa construída pelo telhado, sem que inicialmente tivessem sido devidamente tratadas as fundações. No entanto resta saber se esta não era a única forma de forçar um maior processo de integração...

Se pensarmos nos imperativos da globalização, com o surgimento das novas potências económicas como a China, a Índia e o Brasil, facilmente intuímos que o tempo e o espaço da Europa estão cada vez mais circunscritos, o que sinaliza uma necessidade intrínseca de esta se repensar e reformular.

Até agora, a intelligentsia Europeia usou o Banco Central Europeu como o garante da unidade da Zona Euro, conferindo-lhe poderes e um grau de autonomia que em certa medida extravasam em muito a política monetária, uma vez que foi a atuação do BCE que acabou por garantir a unidade política da Zona Euro, como todos bem sabemos!

Recentemente, têm sido múltiplos os sinais que estão a emergir no seio da Zona Euro no sentido desta se emancipar e definir esta nova corrente política e económica: o EUROEXIT. O Brexit e o novo posicionamento dos EUA no mundo determinaram esta nova corrente europeia e o eixo Franco-Germânico encontra-se mais coeso do que nunca e disposto a renegociar os tratados, a julgar pelos repetidos comentários de Angela Merkel e de Emmanuel Macron. Uma eventual alteração dos tratados poderá vir a ser uma realidade próxima, mas com uma janela de oportunidade limitada, que se estende entre o pós-eleições alemãs e o ante eleições italianas.

Na prática, um maior fortalecimento político da Zona Euro, acabará por esvaziar a importância da União Europeia, mantendo-a apenas como um porto aberto, o que por sua vez, poderá facilitar um melhor enquadramento do próprio Brexit.

Não tem sido inocentemente que temos assistido nos últimos meses à aceleração do processo da União Bancária, onde ainda recentemente foi acionado o Mecanismo de Resolução Europeu. Por outro lado, a procura de soluções mais assertivas para a resolução dos problemas do crédito mal parado estão a ocorrer, com alguns países a legislarem para garantirem maior celeridade nos processos de execução e na criação de mecanismos de conversão de dívida em ações.

A vedação está a ser colocada, já só falta mesmo a constituição do fundo de garantia de depósito comum, o que na prática apenas expõe a partilha de riscos, que de alguma forma já se encontra subjacente ao programa de Quantitative Easing...

Agora, este processo em marcha tem um risco evidente e mal quantificado pelos mercados financeiros, sendo que num cenário de EUROEXIT, ao devolver-se maior capacidade política à Zona Euro, o papel político do Banco Central Europeu vai acabar por se esvaziar naturalmente, obrigando-o com isso, a uma maior rapidez na normalização da política monetária, face aquela que está atualmente descontada nos mercados.

Em síntese, se associarmos uma necessidade de maior independência do Banco Central Europeu a um menor risco de fragmentação financeira na Europa e consequentemente extrairmos uma maior probabilidade de algum tipo de partilha de riscos e/ou de mutualização de dívida, facilmente constatamos que a recente alteração de perceção do valor dos ativos de refúgio na Europa pode ainda estar longe de ter terminado.