Estará o ciclo de valorizações do dólar a chegar ao fim? Argumentos e gráficos a favor

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BounceEnergy, Flickr, Creative Commons

A tendência de valorização do dólar tem sido uma preocupação constante para os investidores desde a origem pelos seus múltiplos danos colaterais, incluindo a forte desvalorização de várias divisas de países emergentes, o impacto sobre os preços das matérias primas e, claro, a sua influência nas decisões da Reserva Federal. No entanto, a moeda norte-americana debilitou-se um pouco desde dezembro, coincidindo com a decisão da Reserva Federal de subir o preço do dinheiro em 25 pontos base. Será de supor que este é um sinal suficientemente forte de que a valorização está a chegar ao fim antes do previsto?

Os especialistas da Legg Mason Global AM tomam como ponto de partida para a sua análise a constatação de que o Dollar Index (que mede o comportamento do dólar face a um conjunto de divisas) retrocedeu 0,6% desde a reunião do Federal Open Market Comitee (FOMC) de dezembro e até ao passado 25 de fevereiro. Isto representa um recuo de 2,9% face ao seu máximo de 30 de novembro de 2015. “É um mercado que contrasta com o comportamento que o dólar exibiu em 2014”, constatam da gestora, ainda que acrescentem que a moeda norte-americana continuou em alta face a uma série de divisas – especialmente emergentes – ao longo de 2015.

A Legg Mason mantém uma visão desmistificadora sobre o comportamento do dólar: “o pressuposto amplamente aceite de que os ciclos de contração monetária da Fed são sempre acompanhados por um fortalecimento do dólar não enquadra com a história. Durante dois dos últimos três ciclos de subidas de taxas da Fed, o dólar, na verdade, desvalorizou”. Não obstante, apontam uma possível explicação: “pode ser também um sinal de que o mercado está a rever em baixa as suas expectativas acerca das subidas das taxas de referência e/ou moderando a sua visão sobre quão melhor vai ser o crescimento dos Estados Unidos em relação a outras economias”.

Em todo o caso, da gestora consideram que estas duas tendências não vão traduzir-se numa depreciação massiva do dólar nos próximos meses. De facto, afirmam que “não há nada que diga que o dólar não possa apreciar-se mais”, e recordam que o Dollar Index cota uns 18% abaixo do seu máximo histórico de 2001. A sua conclusão é de que se “o dólar continuar constante ou com uma depreciação gradual nos próximos meses, poderá ser um sinal de um efeito calmante nos mercados financeiros”.

Dados que apontam para uma relação do dólar com o petróleo

Com o intuito de encontrar mais sinais que determinem a trajetória futura do dólar, o estratega Bastien Drut, da Amundi, optou por estudar a correlação entre o comportamento da divisa e o preço do petróleo. Baseando a análise nos cinco períodos recentes em que a commodity apresentou fortes variações de preço, Drut determinou que há “uma forte relação inversa entre o dólar (trade adjusted) e os preços do crude”.

No primeiro período, entre 1 de janeiro de 2007 e 30 de junho de 2008, o petróleo valorizou 135% e o dólar retrocedeu 10%. No segundo período, de 1 de julho de 2008 a 31 de dezembro de 2008, o crude recuou 74% e o dólar subiu 13%. Entre 1 de janeiro de 2009 e 30 de setembro de 2009, o petróleo registou um avanço de 81% e o dólar, um retrocesso de 5%. O quarto período estudado, compreendido entre 1 de setembro de 2010 e 29 de abril de 2011, evidenciou ganhos de 67% no crude e uma quebra de 9% do dólar. Finalmente, entre 30 de junho de 2014 e 26 de fevereiro de 2016, a relação inversa entre a matéria prima e a divisa cimentou-se com uma descida de 70% da primeira e uma subida de 22% da segunda.

Drut incorpora na sua análise o estudo do comportamento da moeda norte-americana em relação a distintas politicas monetárias. “Como a política monetária e em particular a divergência entre politicas monetárias também é um importante motor das taxas de cambio, também calculamos um diferencial de politicas sobre taxas entre os EUA e os 26 países incluídos no cabaz de divisas da FED (ponderamos da mesma forma que o cabaz da FED), indica o estratega (ver gráfico).

O representante da Amundi efetua várias observações. A primeira que, “coincidência ou não, as grandes voltas que o preço do petróleo deu coincidem com períodos de divergência crescente das políticas monetárias entre a FED e os seus parceiros homólogos”. Assim, entre os períodos históricos ‘um’ e ‘quatro’, detecta que as subidas do petróleo trouxeram uma redução da divergência entre politicas monetárias. No entanto, no período ‘três’ o aumento foi tão grande no preço do petróleo como no diferencial entre políticas de taxas de juro, o que dificulta a análise do comportamento do dólar.

A avaliação que oferece o estratega sobre o período ‘cinco’ assemelha-se à da Legg Mason. “Embora toda a gente esteja a enfatizar as políticas de divergência monetária, a distância atual entre a FED e os seus homólogos é, na realidade, muito limitada. Por isso, considera que o “rally atual do dólar, provavelmente, tem mais a ver com os preços das matérias-primas do que com as divergências monetárias”.

A conclusão final de Drut é que, “considerando que o preço do petróleo está a tocar no fundo (qualquer subida em 2016 seria lenta, pequena ou possivelmente errática) e que a divergência entre politicas monetárias é muito lenta, o dólar em termos ajustados ao comércio está atualmente próximo do seu máximo ou já o alcançou em janeiro”. O estratega assinala que esta tendência “é crucial para as politicas do FOMC nos próximos trimestres, pelo facto da valorização do dólar desde meados de 2014 ter tido um impacto negativo sobre a inflação e sobre o crescimento, e por ter evitado que a Fed começásse antes o seu ciclo de subida