Emergentes: quanto mais se pode prolongar o rally?

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Ian.Kate.Bruce's Wildlife, Flickr, Creative Commons

Mais que uma classe de ativos, há que falar de toda uma geografia para referir o vencedor deste verão: os países emergentes. Tanto a dívida como as ações de países em vias de desenvolvimento têm obtido boas rentabilidades durante este período estival que está agora a chegar ao final. Só um facto: o índice MSCI Emerging Markets fechou agosto com uma subida de 14,5% no ano (em euros), face aos 10,7% registados pelo MSCI World.

Foi um verão em que os devaneios entre os EUA e a Coreia do Norte receberam a maior quota de protagonismo, com o acentuar da debilidade do dólar e a cautela por parte da Reserva Federal no seu ciclo de subidas de taxas. O crescimento do PIB na Ásia melhorou de forma generalizada no segundo trimestre, com a Tailândia, Singapura e Hong Kong a bater as expectativas do mercado. Também se viram novidades da China, onde a temporada de resultados refletiu uma melhoria dos lucros, que segundo a Aberdeen “refletem o crescimento, e não são simplesmente o resultado de receitas extraordinários ou subsídios públicos”. Da gestora consideram que esta melhoria fundamental sugere que “a economia está a tocar no fundo e os investidores estão a tornar-se otimistas e mais dispostos a pagar pelo crescimento futuro”.

Quanto mais pode durar o bom momento?

Agora que apenas falta um trimestre para terminar 2017, muitos investidores se perguntam quanto mais pode durar o bom momento nos ativos emergentes. Especialmente se se tiver em consideração o contexto de taxas muito baixas, altas valorizações dos mercados de obrigações e ações de mercados desenvolvidos e a subida do risco político nos EUA, refletido, especialmente na debilidade do dólar. “Parece que os investidores estão à espera de uma maior clareza sobre as intenções políticas da Casa Branca. O consenso é que a Administração Trump tem dificuldades na execução das medidas fiscais e dos gastos governamentais, e que a Fed subirá taxas em setembro ou outubro. Mas é provável que os mercados se tornem cada vez mais inquietos se não se proporcionarem políticas detalhadas”, explica Kim Catechis, responsável global de mercados emergentes na Martin Currie, do universo Legg Mason.

Catechis destaca, por outro lado, a melhoria do crescimento do PIB na Ásia emergente, que foi ao encontro do que esperava, mas “enigmaticamente, ainda não parece que tenha sido acompanhada por um incremento na inflação”, consequência de uma combinação de uma meteorologia favorável com a robustez da produção alimentar no mundo emergente.

Em linhas gerais, a estimativa do especialista é que “a recuperação do crescimento dos lucros e do return on equity (ROE) que começou em 2016 continue a desenvolver-se em 2017”. Este resume que “as condições são atualmente muito favoráveis para um bull market prolongado”, neste caso nas ações emergentes.

Os especialistas do Capital Group também mostram uma visão construtiva para  classe de ativos. Concretamente, explicam que “os lucros das empresas em mercados emergentes estão a melhorar e estima-se que os lucros agregados de países em desenvolvimento subam mais dois dígitos este ano e em 2018”. Os fluxos de caixa das empresas também estão a melhorar e poderão levar a revisões em alta das previsões de resultados”.

No que respeita às valorizações da dívida, na empresa consideram que “no seu conjunto, a dívida em dólares norte-americanos parece razoavelmente valorizada”. Os analistas destacam que “a deterioração política entre os EUA e China é um risco chave, mas muitos países em desenvolvimento estão em diferentes fases do ciclo monetário e têm margem para reagir”. No que se refere à dívida em moeda local, comentam que “está a beneficiar de uma inflação mais baixa, mesmo que se vejam comportamentos particulares em cada país”, e acrescentam que, se bem que os spreads são mais reduzidos que há um ano, “ainda oferecem um bom valor relativo a mais longo prazo”.

Finalmente, os especialistas do Capital Group afirmam que, apesar da subida que acumulam este ano, as moeda emergentes ainda parecem subvalorizadas em relação ao dólar “e estão a ficar favorecidas pelas rentabilidades atrativas das obrigações e valorizações das ações”. A sua expectativa é que se não houver nenhum contratempo, “as moedas dos mercados emergentes deverão fortalecer-se ou, pelo menos, enfrentar menos obstáculos do que no passado”.

“Tanto as ações como as obrigações emergentes são atrativas em comparação com as obrigações e ações de países desenvolvidos”, concorda Jean Medicin, membro do Comité de Investimentos da Carmignac. No que respeita as obrigações, o especialista afirma que “a engenharia de estabilização de divisas aplicadas pelas políticas monetárias restritivas ajudou a controlar a inflação, enquanto as políticas económicas que procuram impulsionar a competitividade e moderar uma procura interna excessiva levaram a uns fundamentais macro mais resistentes, com melhorias na balança corrente e comercial”. Médecin assinala que esta queda generalizada da inflação “apoiou particularmente os produtos que investem em dívida de longa duração”. Relativamente a oportunidades concretas, opina que países como o Brasil, Rússia ou México continuam a oferecer um retorno atrativo para investir na sua dívida soberana, tendo em conta que estes países oferecem “um contexto de políticas monetárias ortodoxas que oferecem uma visibilidade apreciada pelos investidores”.

Relativamente às ações, Médecin opina que os investidores devem ser seletivos, pois a elevada alavancagem e as baixas taxas de juro estão a travar a aceleração do momento económico. Dito isto, sublinha que os mercados emergentes “são ricos em empresas tecnológicas com um potencial estrutural convincente”.