... e algumas pistas sobre a próxima reunião da FED

Federal Reserve Reserva Federal Yellen
Kurtis Garbutt, Flickr

Cada vez é mais claro que a reunião de política monetária mais relevante do trimestre será a do Federal Open Market Committee (FOMC). A reunião terá lugar entre 14 e 15 de março, coincidindo com a data limite para que o Congresso dos EUA suba outra vez o teto de dívida para evitar o incumprimento.

Vincent Reinhart, economista chefe da Standish, parte do BNY Mellon, fixa-se nas mensagens emitidas recentemente por dois membros da Fed, William Dudley (presidente da Fed de Nova York) e John Williams, da Fed de São Francisco. Segundo Reinhart, ambos “tentaram convencer os agentes de mercado de que é provável que as taxas de juro voltem a subir na próxima reunião do FOMC”. Em palavras de Dudley, os argumentos a favor de uma nova subida de taxas tornaram-se “muito mais convincentes”.

O economista da Standish reflete sobre o facto de “os membros da Fed nunca surpreenderem os mercados (atuando apenas quando os preços refletem uma grande probabilidade de que atuem). Dudley e Williams quiseram assegurar-se de que a medida não surpreende, mas a responsabilidade de uma possível decepção recai sobre a presidente da Fed, Janet Yellen”.

Reinhart acredita que “é pouco provável que os comentários de Dudley e Williams tenham sido orquestrados”, mas sim que os dois se tenham baseado em conversas mantidas com Janet Yellen recentemente. “A Yellen tem a última palavra, mas atualmente a probabilidade de que a Fed aprove uma subida de 25 pontos base em março é de dois terços”, sentencia o especialista.

Mark Downing, co-responsável de dívida com grau de investimento na BlueBay, acredita que um aspeto verdadeiramente interessante desta reunião será o gráfico dos pontos com as projeções dos membros do FOMC, especialmente “se revelar firmeza nas expectativas sobre taxas de juros em comparação com as projeções de dezembro, suportadas por dados sólidos e condições financeiras melhores, guiadas em grande parte pelo efeito riqueza proveniente dos mercados de ações norte-americanos”.

Dowding considera que, nestas alturas, “a decisão de não subir taxas será uma surpresa enorme”. A reação do mercado ao que disser a Fed “pode depender do tom do comunicado e da conferência de imprensa de Yellen”. Além disso, o especialista prevê outra subida de taxas em junho, “o que sugere que as taxas subirão uma vez por trimestre durante os dois anos seguintes”. Esta expectativa contrasta frontalmente com o mercado, que está a refletir no preço 2,5 subidas de taxas em 2017 e outras duas subidas em 2018. Se se cumprir a previsão da BlueBay, isto “significaria que as expectativas de taxas a curto prazo terão ainda um longo caminho para reagir, e à medida que reajam, prevemos que as obrigações com maturidades mais longas também sofram mais pressão em alta”.

Os especialistas de Royce, filial da Legg Mason Global AM, fazem finca-pé deste modo na possibilidade de que o mercado esteja a subestimar um ciclo de subidas de taxas de juro mais agressivo: “A maioria dos investidores mostra-se incrédula, considerando que esperam um ritmo de subidas menor, com menos intervenções e mais espaçadas no tempo que a trajetória de subida mais estável que a Fed tem desenhado nos últimos comentários”.

O ponto de vista da empresa é que “o claro sinal da Fed no que se refere à sua intenção de subir as taxas no dia 15 de março é um avanço positivo, dado que faz com que estejamos mais perto da normalidade económica e, com sorte, acabará por reduzir o enorme balanço da Fed”. Por outro lado, indicam que a própria autoridade monetária considera que “a política orçamental do país será orientada para uma postura de estímulo”. Nesta linha, os especialistas da Royce indicam que “a mensagem do presidente Trump ao congresso sobre os programas de investimentos públicos, dá à instituição monetária  mais motivos para endurecer a política monetária, se possível”.