Duas décadas nos mercados financeiros trazem mais ponderação

A evolução das carreiras é, naturalmente, significado de experiência e, por isso, da existência de profissionais veteranos dos mercados. Nas gestoras nacionais há alguns profissionais que estão há cerca de duas décadas no sector.

As razões identificadas para a permanência no sector durante vários anos não são, segundo os profissionais questionados, diferentes daquelas que se verificam para outras profissões. Pedro Van Zeller, da Absolut Midas, aponta três razões, partilhadas por outros profissionais.

Sem ordem específica, "o interesse/necessidade (falta de alternativas compensadoras), a paixão (vontade/vocação) e a "inconsciência"", que segundo o próprio, será por exclusão das duas primeiras. Virgílio Garcia e Filipe Barreto, da BPI Gestão de Activos, ambos com cerca de 21 anos de experiência, falam de trabalhar no que gostam e identificam a humildade como uma das características importantes a ter. Susana Vicente, da ESAF, com 18 anos de mercados, afirma que "um gestor se apaixona pela sua actividade de gestão e, até pelos activos das suas carteiras".

Neste sentido, as emoções e o facto de por detrás dos mercados estarem pessoas, como todas as outras, humaniza um sector, muitas vezes, descrito como impessoal e cinzento. E, passados tantos anos, a palavra de ordem é ponderação. "Quando somos mais novos preocupamo-nos com muitas coisas que o tempo se encarrega de nos ensinar a ultrapassar. Essa experiência acumulada ajuda a tomar decisões mais ponderadas", refere Virgílio Garcia, da BPI Gestão de Activos. Susana Vicente acrescenta que "nos últimos 20 anos o que mudaram são, também, os instrumentos que se podem utilizar e as próprias condições de mercado. Se antes o risco era uma percepção mais directa da proximidade ou não ao 'benchmark', hoje a definição do mesmo é diferente". Já Filipe Barreto considera que, com os anos, um gestor, assim como o ser humano, tende a tornar-se "mais realista e pragmático". Assim, se manter o ânimo nas actuais condições de mercado continua a ser um desafio, os anos de experiência trazem a lição de que "o presente já está descontado pelos mercados", comentam Virgílio Garcia, e Vítor Saraiva, da Montepio Gestão de Activos, que cita o treinador do Futebol Clube do Porto, quando se fala em rendibilidades alcançadas, dizendo que "a sorte dá trabalho".

Por último, Pedro Vaz Zeller fala da crise actual dizendo que, a crise que se vive hoje, não "parece ser em nada semelhante a experiências passadas, ou pelo menos vividas, mesmo pelos “veteranos”". No entanto, à pergunta, se com a experiência se acredita mais facilmente que vivemos um ciclo e por isso terá um término, responde "que vai passar e que se trata de um ciclo, até porque é a natureza das coisas vivas, onde se inclui a economia. O que não se consegue prever, é o tempo, a profundidade e o que vem a seguir. Infelizmente, em especial para os portugueses, vai ser exponencial a teoria dos 3 D’s – mais difícil, mais demorado, e vai custar mais dinheiro".