Crise política brasileira: muitas dúvidas e poucas certezas

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Agência Brasil Fotografias, Flickr, Creative Commons

As últimas semanas não têm sido fáceis para o Brasil. Michel Temer viu-se envolvido num escândalo de corrupção, e parece ter perdido a confiança dos brasileiros. A bolsa brasileira reagiu negativamente, com uma queda de 10% na sessão do dia 18 de maio, levando ao encerramento das negociações durante 30 minutos.

O alegado envolvimento de Michel Temer num esquema de pagamentos ao ex-presidente do Congresso, Eduardo Cunha, para manter o seu silêncio na investigação do caso “Lava Jato” levou, ainda, a uma forte desvalorização do Real face às principais moedas.

António Dias, gestor do fundo IM Mercados Emergentes da IM Gestão de Ativos, acredita que “o contexto político que se vive no Brasil é, novamente, pouco propício à implementação de reformas”.  Embora exista a possibilidade de Temer manter a sua posição enquanto presidente, “pode ficar sem o apoio no Congresso, o que deixaria o país à deriva até às próximas eleições agendadas para 2018”, avisa o gestor. Apesar do cenário controverso, “ainda é cedo para tentar adivinhar os próximos passos nesta nova saga política e económica brasileira”, conclui.

Elegibilidade dos investimentos inalterada

Apesar da destituição de Temer parecer um cenário cada vez mais real, Ricardo Santos, gestor do NB Mercados Emergentes, considera que “não existe um único político ou força política com carisma e credibilidade suficiente para assumir a gestão do país”. Por outro lado, à incerteza que tem vindo a aumentar, opõe-se o contexto de determinados sectores “onde os níveis de rentabilidade têm mantido uma grande resiliência ao ciclo económico e que pode fazer sentido voltar a olhar”, afirma, dando como exemplo o sector da banca privada ou das concessões rodoviárias. Na verdade, há uns meses atrás “um dos fortes argumentos para investir no Brasil era o ciclo de queda da inflação que permitia ao Banco Central continuar um ciclo de cortes nas taxas de juro”, destaca o gestor. Neste contexto, “só uma grande depreciação do Real travaria este ciclo de política monetária e colocaria pressão na inflação via bens importados”. O clima de incerteza política no Brasil acabou “por aumentar o risco, mas também o retorno potencial, o que não altera a elegibilidade dos investimentos, assegura o gestor.

Apesar deste contexto, João Caro Sousa, gestor dos fundos BPI Brasil e BPI Brasil Valor, acredita que os ativos brasileiros mantêm um grande potencial para o investidor a longo prazo, porque “se trata de uma economia com um enorme potencial de crescimento que nos últimos anos tem feito reformas estruturais que tiveram impacto positivo no seu crescimento potencial de longo prazo”. Quanto ao surgimento de novos escândalos de corrupção, o gestor está convicto de que o combate à corrupção é cada vez maior, o que acaba por ser “bastante benéfico para o Brasil no longo prazo por aumentar a credibilidade das instituições financeiras”.

Alguns adiamentos

Contudo, entre os gestores parece ser unânime que a incerteza política pode levar a um adiamento da recuperação económica. Para João Caro Sousa o escândalo pode, ainda, conduzir a uma redução da “probabilidade de aprovação no congresso de reformas essenciais para a retoma económica, nomeadamente a reforma da segurança social e da lei laboral”. Também António Dias acredita que “a polémica reforma do sistema previdenciário brasileiro será novamente protelada”, podendo, “sem medidas compensatórias causar um novo agravamento do défice fiscal”.