Conclusões sobre a última reunião do BCE

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INSM, Flickr, Creative Commons

A última reunião do BCE pode resumir-se da seguinte forma: um comunicado ligeiramente mais dovish do que o esperado, e uma posterior conferência de imprensa ligeiramente mais hawkish do que se poderia pensar. O banco central não alterou uma única vírgula da sua política monetária, e o seu presidente voltou a insistir na necessidade de ver uma recuperação mais visível da taxa de inflação subjacente, bem como na necessidade de implementar reformas estruturais que, de momento, estão longe de estarem definidas. Foram publicadas projeções sobre o crescimento da zona euro ligeiramente mais otimistas do que as anteriores, e, de uma forma geral, Mario Draghi transmitiu a ideia de que a recuperação económica continua em marcha no Velho Continente.

A análise de Maryse Pogodzinski, economista na Groupama AM, relativamente a esta reunião, divide-se em três pontos: elogios relativamente à política monetária da própria instituição, prudência relativamente à recente evolução da inflação, e uma maior confiança sobre o crescimento. Quanto ao êxito da política monetária, a especialista foca-se, particularmente, nos comentários de Mario Draghi acerca do impacto das políticas acomodatícias na recuperação a nível geográfico e setorial, com algumas diferenças de crescimento entre os países da zona euro em mínimos desde 2007. “Desta forma, a política monetária em vigor é apropriada e conveniente”, afirmou. Para além disto, acrescenta também que o BCE comunicou que “o balanço entre riscos melhorou, ainda que se mantenham moderadamente em decréscimo”.

Relativamente à inflação, a própria economista afirma que os comentários de Mario Draghi não foram surpresa. Destaca a mensagem de que “a inflação subjacente é, ainda, baixa e ainda não existem indícios de uma tendência sólida de subida da mesma”. Neste sentido, Pogodzinski indica que “a inflação subjacente deverá aumentar de forma gradual a médio prazo, sustentada pelas medidas da política monetária em vigor”.

Por fim, a especialista da Groupama AM foca-se naquilo que Draghi destacou “a amplitude cada vez maior da recuperação que estamos a viver: esta repercutiu-se em todo o conjunto de países e setores da economia”. Destaca, ainda, que o presidente do BCE tem vindo a mencionar, pela primeira vez, um aumento das transações comerciais a nível global.

A economista acredita que o passo seguinte do BCE será “abandonar o discurso de crescimento em baixa em junho, anunciando no outono (depois das eleições alemãs) uma redução progressiva das compras de ativos, efetiva, provavelmente, a partir de janeiro de 2018, e uma subida de taxas em várias etapas”.

Um pequeno detalhe

Resumindo, a interpretação geral é de que se tratou de uma reunião bastante indefinida, exceto, talvez, um pequeno detalhe. Patrick O’Donnell, gestor da Aberdeen, explica: “Draghi abriu, ligeiramente, a porta a uma alteração na sua política. Fê-lo ao dizer que o Conselho de Governo esteve a discutir sobre uma mudança de linguagem em relação ao nível em que se encontram as taxas, no seu comunicado mensal, mas na verdade ainda não fizeram mudanças. Efetivamente isto é uma mostra de que Draghi está a dizer que algo poderá mudar no futuro, mas não hoje”. Para O’Donnell, esta mensagem entre linhas “é o clássico método de Drgahi de anunciar algo que moverá os mercados, mas na realidade não fazer nada”. A sua previsão é de que, consequentemente, “os mercados começaram a recalibrar-se assumindo a ideia de que o BCE acabará com a sua postura acomodatícia para final do ano”.

Para Cosimo Marasciulo, responsável de obrigações europeias da Pioneer Investments, o mais interessante da reunião foi a conferência de imprensa posterior. Fixa-se nos detalhes em particular. O primeiro, que “Draghi explicou que o Conselho do BCE debateu se seria apropriado eliminar a palavra “mais baixos” da forward guidance sobre as taxas de juro”. No entanto, o presidente acrescentou que “visto que o Conselho não vê ainda uma melhoria sustentável da taxa de inflação, decidiam manter a política de visibilidade tal como está”.

Por outro lado, e de forma mais interessante, Marasciulo diz que “pareceu que Draghi se esquivava à pergunta de um jornalista sobre se o BCE pode subir as taxas antes do final do QE”. “Temos visto suficientes conferências de imprensa de Draghi que nos permitem perceber que se não respondeu à pergunta é porque quer manter as suas opções em aberto. Portanto, uma subida na taxa de depósitos continua a ser uma possibilidade para finais de 2017”, conclui.