Bill Gross confessa-se na Business Week

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johngoff3, Flickr, Creative Commons

2014 está a ser um ano especialmente complicado para Bill Gross. Não só por causa da eminente subida das taxas de juro nos mercados de obrigações ou então  por causa do excelente comportamento das bolsas que está a fazer com que muitos investidores façam uma rotação da sua carteira para ativos fora do mercado de obrigações, que é a especialidade de Bill Gross e também a classe de ativos que tornou a PIMCO famosa. O novo ano está a ser mais difícil para o famoso investidor também porque o Total Return Fund, produto que gere pessoalmente, e que com 232.000 milhões de dólares de património é o maior fundo de obrigações do mundo, sofreu resgates no valor de 40.000 milhões de dólares no ano passado e já acumulou mais de 8.000 milhões de saídas desde o início do ano.

Foi uma experiência que se iguala a estar perto da morte; um choque emocional”. São palavras de Gross durante uma entrevista recente concedida à Business Week, na qual o guru se confessa sobre o impacto da renúncia de Mohamed El-Erian – o seu braço-direito e  herdeiro – no futuro da empresa e a nível pessoal. Foi apenas há três meses que a PIMCO tornou público um comunicado que anunciava que El-Erian iria abandonar a entidade. A notícia caiu como uma bomba entre os investidores, colaboradores e meios de comunicação. A ter em conta é o facto de Bill Gross, ainda que cheio de energia, estar próximo dos 70 anos de idade. Quem tomará as rédeas da entidade quando o especialista se reformar?

Segundo Bill Gross, El-Erian não deu nenhuma explicação sobre o porquê da sua saída. “Apenas me disse que ele não era a pessoa adequada para liderar a empresa no futuro”. A falta de um motivo claro – como por exemplo uma proposta de trabalho como a que já levou El-Erian a deixar temporariamente a PIMCO em 2006 para gerir o endowment fund de Harvard – fez disparar os rumores sobre as divergências entre ambos os gestores. No dia 24 de fevereiro, o Wall Street Journal publicou um artigo, em que se apontavam as frequentes discussões como a causa da renúncia de El-Erian. Para além disso era também referido que o resto dos empregados da PIMCO se sentiam demasiado intimidados com Gross, para poderem falar livremente.

“’Gross é um tirano. Gross é um ditador. Gross é isto e aquilo’. Serei de facto assim?”, pergunta-se o gestor veterano. “Cada um de nós tem uma visão de como somos e a realidade está algures no meio. Sempre me considerei parte de uma grande família, e sim sou eu que dou as ordens, mas não acredito que tenha forçado alguma coisa. Esta situação foi a pior: ter que me perguntar se realmente sou como dizem, ou como me vejo”.

O certo é que “intenso” é uma palavra recorrente quando as pessoas descrevem Gross e o ambiente na PIMCO. Virginie Maisonneuve, a nova responsável de ações da entidade norte-americana, descreve a cultura empresarial da entidade como sendo “refrescantemente direta”. Bill Thompson, conselheiro delegado da PIMCO durante quinze anos e grande amigo de Gross, reconhece que “às vezes é difícil trabalhar com ele porque é temperamental, competitivo e obstinado. Mas para ser tão bom investidor como ele, tem que se ter determinadas qualidades pouco comuns. Ele tem sem dúvida essas qualidades”.

Mohamed El-Erian fazia um contraponto perfeito com a forte personalidade de Gross. Sendo a cara mais visível da empresa, El-Erian sabia posicionar-se com facilidade perante os meios de comunicação e sabia lidar com os empregados e com os clientes, permitindo assim que Gross se pudesse centrar naquilo que faz de melhor: investir. Para além disso, era também uma das poucas pessoas capazes de falar de igual para igual com o fundador da PIMCO, sobre qualquer tema, desde as decisões de investimento até às novas contratações. Para o analista da Morningstar Eric Jacobson, “El-Erian desempenhava um papel muito valioso como contraponto com Gross. E não só dentro do comité de investimento, mas também dentro da organização em geral”.

A saída de El-Erian acelerou o processo interno de renovação que muitos assinalavam também como origem das disputas. Gross reconhece que ambos tinham visões diferentes sobre como enfrentar estas mudanças. No final de tudo, no entanto, os planos para ampliar a empresa em que ambos concordaram seguem em frente, mas sem El-Erian. As contratações sucedem-se e a PIMCO pôs mesmo em marcha uma agressiva campanha de comunicação para dar a conhecer as suas novas estrelas. Para além disso, Gross afirma que “as reuniões diárias do comité de investimento são agora mais relaxadas, porque as pessoas participam mais”.

No entanto, como o gestor realça “aos clientes parece-lhes muito bem que as pessoas que trabalham na PIMCO estejam contentes, mas o que lhes realmente importa é se eles estão contentes, que é como quem diz, se são produzidos resultados. Isso deve ser a nossa prioridade: fazer os clientes felizes, em primeiro lugar; só depois é que nos preocupamos com a nossa própria felicidade”.