As três questões que levaram o pessimismo aos mercados emergentes

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arbyreed, Flickr, Creative Commons

Os mercados emergentes estão sob a mira dos investidores, depois da última pesquisa do Bank of America-Merril Lynch ter revelado que  a subponderação nestes mercados cresce. O diretor mundial de investimentos da área de ações da Fidelity Worldwide Investment, Dominic Rossi, reconheceu num evento recente da gestora realizado em Espanha, que os emergentes devem procurar um novo modelo de crescimento, ainda que continuem a existir oportunidades de investimento. A visão que o gestor tem sobre os mercados emergentes é muito crítica, e são três as razões que justificam essa perspetiva.

Em primeiro lugar, o especialista prevê que a tendência de estabilidade/subida do dólar continue a baixar os preços das matérias primas (e, por extensão, de alguns mercados emergentes). “Estes mercados requerem  agora uma estratégia mais sofisticada, que tenha em conta os diferentes factores que impulsionam estes países. Durante o período de 2003-2007, o vendaval chinês e a debilidade do dólar/fortaleza das matérias primas foram o motor desses mercados. Agora estamos num contexto diferente em que se reafirma a heterogeneidade subjacente dos mercados emergentes. Alguns mercados vão sair-se melhor do que outros”, explica.

O segundo aspecto em que o especialista fundamenta o seu pessimismo evidencia a estrutura destas economias. “Na minha opinião os mercados emergentes devem afastar-se dos modelos económicos baseados exclusivamente nas exportações, e aplicar reformas estruturais. Os que sigam este modelo, como por exemplo a China, devem ter um bom comportamento. Já os que não apliquem esta sugestão poderão continuar a enfrentar dificuldades. É evidente que os mercados emergentes já não podem depender mais das vantagens de um dólar débil e da subida das matérias primas”, explica Rossi.

O terceiro ponto faz referência aos riscos. “A evolução do ciclo de crédito na China é o que mais preocupa por causa da falta de transparência. É evidente que a criação de créditos na China foi superior ao crescimento económico durante algum tempo e que a dívida do país é agora equivalente a 200% do PIB. Num país que carece de mercados financeiros maduros como os que temos no Ocidente, a magnitude da dívida comparada com o tamanho e a experiência do mercado financeiro é um motivo de preocupação. A pergunta que se coloca. é como é que um mercado assim pode abordar um possível processo de redução da dívida. Em última instância, creio que vamos ver uma menor taxa de crescimento económico em resultado disso”.

A esperança em alguns emergentes

Yerlan Syzdykov, Head of Global Emerging & HY Bond, da Pioneer Investments, também evoca o risco político e diz  que "enquanto a economia global está a lidar com desafios relacionados com o ambiente do tapering da Fed, e enquanto a recuperação  nos mercados desenvolvidos, especialmente na Europa, ainda está por confirmar, um grande número de mercados emergentes está atualmente a lidar com problemas específicos relacionados com os desequilíbrios existentes e com as questões políticas".

Deta forma, o especialista da entidade espera que a volatilidade regresse aos mercados, mais precisamente ao nível das moedas dos mercados emergentes. No entanto, Yerlan Syzdykov, acredita que o contágio irá manter-se contido. "Os países com fundamentais sólidos ou que ofereçam respostas ao nível político para o contexto global atual, podem ter defensiva enquanto olham para o valor e para as oportunidades que podem surgir neste selloff do mercado", refere.