“As obrigações são a maior bolha que está prestes a rebentar”

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Está o mundo desenvolvido decididamente encaminhado para a recuperação? A resposta é sim, mas em diferentes fases. Azad Zangana, economista da Schroders, refere que tanto os Estados Unidos como a Alemanha já completaram a fase de recuperação, apesar dos países periféricos ainda a estarem a iniciar agora. Um desses casos é  o de Espanha, ou de Itália, que ainda está à espera desse início, já que tem dois anos de crescimento negativo. O Reino Unido, por seu lado, registou uma importante recuperação no seu sector imobiliário enquanto no Pacífico o Japão está a registar grandes progressos graças ao Abenomics e à desvalorização do Iéne.

Nesta recuperação os bancos centrais têm tido um papel central. O especialista afirma que os bancos centrais injetaram um valor exorbitante de 8 mil milhões de dólares na economia mundial. No entanto, este aumento dos balanços dos bancos centrais também tem efeitos perversos: ao observar-se o prémio de risco que oferecem as obrigações americanas a 20 anos, chega-se à conclusão que é muito parecido com o desempenho agora oferecido pela rentabilidade média por dividendo do S&P 500, pelo que Zangana acredita que “as obrigações estão incrivelmente caras; é a maior bolha que está prestes a rebentar”.

Estados Unidos ganham força e China perde competitividade

De qualquer das formas, Zangana não tem dúvidas quando afirma que neste contexto o mercado favorito da gestora é o dos Estados Unidos: os bancos estão em posição de voltar a conceder crédito, as casas voltaram a ter subidas de preços, recuperaram-se as vendas de automóveis e os benefícios das empresas estão em máximos históricos. Para além disso, as empresas americanas têm sido muito ativas na recompra de ações e no pagamento de dividendos. Zangana estima que “os investidores estejam a premiar as empresas menos ativas em movimentos corporativos”, em vez de investirem nos seus negócios. Esta é uma tendência que deverá mudar no próximo ano.

No risco político, tanto da parte do governo, como das políticas monetárias da Fed, para o economista a boa notícia é que o shutdown nos EUA não prejudicou a maioria dos dados macroeconómicos. Em relação ao tapering, a Fed já demonstrou a sua convicção de que “será atrasado até março ou um pouco mais tarde”, porque os membros da Reserva Federal “estão de acordo no facto de a economia não estar forte o suficiente”.

No que diz respeito à distribuição geográfica das carteiras, Zangana admite que na Schroders estão “menos positivos” na Europa, onde detetam “uma recuperação muito lenta”, onde será crucial o papel da banca. Para o especialista, o maior risco é que muitos bancos suspendam os testes de stress do BCE e, por isso, tenham que aumentar capital, podendo isso refletir-se numa diminuição da concessão de crédito às famílias. O economista calcula que o PIB da zona euro seja inferior a 1% no primeiro trimestre de 2014. No entanto, também existem aspetos positivos, entre os quais se destacam os esforços de países como a Espanha e Grécia, que recuperaram a competitividade, até a um ponto que considera que agora “são mais competitivos do que os Estados Unidos”.

Dentro da Europa, o Reino Unido é quem capta mais atenção do especialista, que afirma ironicamente que, segundo os seus PMIs, “é o país mais forte do mundo”. Num tom já mais sério, Zangana explica que não acredita que seja provável que se cumpram os dados de crescimento anualizado do PIB, mas que se assiste a “um momento muito forte” no país.  Prevê mesmo que a economia britânica cresça acima dos 2% em 2014. A chave para entender o Reino Unido está no seu mercado laboral: Zangana refere que o emprego já recuperou, mas que perdeu produtividade. São portanto “boas notícias para o mercado laboral, mas não tão boas para os benefícios”. Ainda assim, considera que as taxas de juro continuarão estáveis no longo prazo, já que o banco de Inglaterra ainda não alcançou os seus objetivos, apesar de já ter dado alguma visibilidade às suas ações futuras.

Azad Zangana também dedica algumas palavras às economias asiáticas. Do Japão destaca o bom resultado da sua opção política de desvalorizar a divisa. Desta escolha “a Europa foi a maior perdedora da desvalorização do iéne”. No entanto, o especialista mostra-se cético em relação à política de reflação, com a qual o Banco do Japão pretende alcançar o objetivo de 2% de inflação. Zangana acredita que para que isto seja alcançado o país deve crescer acima dos 2% do PIB esperado, durante um ou dois anos. Para além disto, realça também o papel chave da subida do IVA que o governo de Shinzo Abe enfrenta para o primeiro trimestre de 2014.

Na China, a concessão de crédito é um tema chave apontado pelo economista da Schroders, que destaca a inédita e impactante decisão do Banco Popular da China de em junho ter deixado que o shibor disparasse, sem intervir, de forma a que volatilidade assustasse os investidores. O outro tema importante é o mercado laboral: a procura do “mundo” desenvolvido por produtos chineses caiu, mas os salários têm melhorado. Isto supõe uma queda da competitividade do país, de tal maneira que Zangana acredita que agora é mais barato produzir noutros países, como por exemplo o México.