As implicações económicas da extensão de quatro meses para a Grécia... e para a Zona Euro

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Finalmente alcançou-se um acordo muito embora apenas se prolongue (de forma provisória) durante quatro meses. O governo grego conseguiu chegar a um acordo sobre uma série de condições com os membros do Eurogrupo, entre as quais se incluem a revisão do atual programa de resgate, o descarte momentâneo de novas quantias da dívida grega e o compromisso da Grécia não tomar medidas unilaterais.

Tanguy Le Saout, responsável de obrigações europeias da Pioneer Investments, é duro nas palavras que profere sobre o assunto. “Os políticos gregos não deveriam jogar poker”. Refere que o novo governo nunca tinha tido experiência em negociações sobre resgates e que, para além disso, tinha de se sentar à mesa do Eurogrupo praticamente em tempo de desconto: “Nem o primeiro ministro Alexis Tsipras, nem o Syriza pareciam ter nenhuma alternativa ao seu plano de restruturação da dívida. Por isso, assim que a Alemanha decidiu que outra restruturação era simplesmente não negociável, a Grécia parecia não ter um plano B. Os bancos gregos aos sofrerem uma fuga nos depósitos significativa, Tsipras e o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, ficaram com um tema complicado em mãos”.

Le Saout mostra-se francamente pessimista relativamente à mudança de governo grego: “Olhe-se para o que fazem os governos gregos e não para o que dizem. Já vimos este filme antes: um partido entra no quarto a gritar o que vão fazer e o outro partido senta-se tranquilamente, a olhar e à espera. Normalmente consegue-se prever quem se vai impor”. Para além disso, opina que “parece que os problemas gregos não vão ser resolvidos rapidamente”, pois considera que ainda há questões pendentes de grande importância para resolver em quatro meses.  Em primeiro lugar destaca, de um ponto de vista económico, que “obrigar a Grécia a conseguir um superavit primário e a devolver toda a sua dívida provavelmente não tem sentido”. No entanto, constata que “a Alemanha parece inflexível e não existirão mais restruturações”. Em suma: uma força imparável choca contra um objectivo imóvel”, descreve Le Saout, que quer saber a reação do eleitorado grego perante esta situação. O especialista da Pioneer questiona-se: “Como se sentirão os membros mais à esquerda do Syriza, sobre quebrar as suas promessas eleitorais?”.

Reforma possível

Maria Paola Toshi, estratega de mercado global da J.P. Morgan AM e Nandini L. Ramakrishnan, analista de mercado, entendem que o “processo de negociação continuará com altos e baixos, embora o seu impacto nos mercados seja muito maior”. Toschi e Ramakrishnan consideram que este compromisso “é positivo tanto para a Grécia como para a Zona Euro, já que mantém vivas as negociações e garante que o país continuará a ser solvente durante pelo menos os próximos quatro meses”. Estas especialistas consideram que o ponto fraco do governo do Syriza é a própria debilidade do sistema financeiro helénico: “Os líderes gregos decidiram solicitar uma extensão do programa para evitar o risco de incumprimento e poder enfrentar as necessidades financeiras do país a curto prazo (...) Sem acesso a outro tipo de financiamento, a Grécia teria caído provavelmente em insolvência”, declaram.

A Grécia sentou-se a negociar com bastantes pesos em cima, como por exemplo a contração de 0,2% do PIB depois da sucessão de três trimestres de crescimento positivo e, especialmente, com a pressão que está a exercer sobre o sistema financeiro a retirada dos depósitos, estimada em cerca de 15.000 milhões de euros. Da J.P. Morgan AM recordam que o BCE teve que alargar em duas semanas a ampliação da linha de liquidez de emergência, que supõe uma injeção de 3.300 milhões para os bancos gregos. “Sempre e quando as reformas propostas pelo governo grego sejam aprovadas, o BCE continuará a apoiar o sistema bancário do país”, sentenciam as especialistas. Na verdade, um dos pontos de conflito das propostas do Syriza, que o Eurogrupo rejeitou, é que foram utilizados os 10.000 milhões de euros que permanecem no fundo grego de estabilidade financeira para gastos sociais. Em vez disso, poderão ser utilizados, se for necessário, para uma futura recapitalização dos bancos gregos ou para reduzir o peso do crédito concedido.

A conclusão de Toschi e Ramakrishnan é que, face à 'vitória pírrica' do Syriza, “a Grécia não pode evitar as reformas”. Estendem-se sobre esta afirmação: “A sua economia está sobrecarregada por um enorme sector público e um sistema industrial frágil e insuficiente. Os governos anteriores não poderiam resolver os problemas estruturais do país relacionados com a evasão fiscal e com a corrupção que afecta muitos sectores. No entanto, em troca da ampliação de quatro meses, o novo governo planificará um amplo programa de reformas para dar soluções a estes problemas estruturais graves”.

Para finalizar a sua mensagem, ambos os especialistas avançam que “o governo grego poderá colocar em marcha medidas não convencionais de forma a alcançar os seus objectivos”. Apesar disso, consideram que “o compromisso alcançado entre a Grécia e a União Europeia é positivo”. O seu ponto de vista é que “tanto a zona euro como os mercados sairão beneficiados se finalmente se alcançar um acordo a mais longo prazo e, o que é mais importante, o progresso das negociações mitiga o risco de um iminente incumprimento por parte da Grécia, assim como a sua saída da UE”.