As Fintech e o Mercado Financeiro Português: Disrupção é Palavra de Ordem

Sergio_Pereira_ComparaJa

A hora das ‘fintech’ chegou, abrindo um jogo de competição com a Banca com a promessa de ajudar aos consumidores a poupar tempo (e dinheiro). De facto, as aplicações e plataformas online que permitem, através de dispositivos móveis (e não só), levar a cabo operações financeiras – assim como comportamentos como a sua procura e aquisição – são cada vez mais uma alternativa ao mercado dito tradicional. Um problema? Talvez seja mais uma solução…

No ano de 2020, os bancos perderão 23% do negócio tradicional às mãos das ‘fintech’. Ou pelo menos é o que afirma um estudo da PwC, elaborado a partir de mais de 500 entrevistas a CEO’s de todo o mundo e que analisa como as novas tecnologias digitais estão a modificar o setor financeiro, pelo menos como o conhecíamos.

Ora, esses dados são elucidativos do surgimento e importância destas novas plataformas que permitem a existência de serviços diretos entre empresas e consumidores sem necessidade intermediação bancária, assim como os novos meios de pagamento (aplicações móveis, wallets, cartões contactless, entre outros…). Mas há mais, muito mais.

Portugal disruptivo

Quando se juntam duas palavras como “Financial” e “Technology”, só pode sair coisa boa. Aliás, o resultado pode muito bem ser qualquer aplicação ou software que permita levar a cabo uma operação financeira através da tecnologia.

A banca de retalho ou consumo, os meios de pagamento e os serviços relacionados com a gestão de ativos e património são, por esta ordem, as áreas que se vão transformar de uma forma mais radical nos próximos anos.

O facto de o WebSummit ser em Portugal este ano pode significar muita coisa, entre as quais o reconhecimento da vanguarda tecnológica e respetivo potencial de algumas startups fintech portuguesas. A CrowdProcess, por exemplo, foi eleita a melhor fintech da Europa, provando que as startups lusas a operar na área financeira estão em plano de destaque no ecossistema europeu.

Outro bom exemplo do que se faz por estas bandas é a proposta de uma solução de serviços bancários omnicanal pela ebankIT, uma das 100 melhores fintech europeias, de acordo com a lista elaborada no âmbito dos prémios European FinTech. 

Meios de pagamento: quando o dinheiro se transforma em digital

A Suécia pretende extinguir o dinheiro até 2021 graças exclusivamente a pagamentos eletrónicos, abrindo portas a um novo paradigma se muitas nações seguirem o exemplo e confirmando a tendência global sobre a influência dos novos meios de pagamento.

De facto, estes serviços geraram para os bancos europeus no ano passado cerca de 128 mil milhões de euros, sendo que 44% pertencem a juros, 35% a comissões por transações e 21% em outras comissões, segundo o último estudo divulgado pela Deloitte.

Para além de serviços como o PayPal ou MBWay, carteiras online como a Meo Wallet, Skrill, Paiza ou Neteller, que funcionam como um banco virtual que facilita pagamentos e transações na internet, muito usadas atualmente, são, por norma, mais rápidas e com taxas mais baixas do que os meios convencionais.

Por outro lado, a BitCoin, inspirada em pagamentos peer-to-peer, constitui a primeira moeda digital descentralizada, sem intermediários e com taxas por transação muito baixas. Muito semelhante é o SEQR, um serviço de carteira móvel muito comum na Europa que permite que os consumidores, através de um smartphone, façam pagamentos em lojas, restaurantes, parques de estacionamento e online.

Comparar está na moda

Um pouco por todo o mundo têm surgido plataformas que suportam a necessidade de os consumidores, à distância de um ‘click’, compararem, escolherem e adquirirem a melhor oferta disponível, estejam onde estiverem, seja em que área de negócio for.

Se a SkyScanner está para os voos aéreos como a AirBnB está para o aluguer de casas, então a Trivago, Booking ou TripAdvisor vieram mudar o mercado típico das agências de viagens, possibilitando a comparação de preços de hotéis por todo o lado.

Por cá, temos o KuantoKusta a comparar preços de produtos variados, da tecnologia aos supermercados, o ComparaJá.pt a comparar produtos financeiros, como crédito e em breve seguros, ou mesmo o Mais Gasolina e VivaGas, que são comparadores ativos na área da energia, nomeadamente combustíveis.

Formas de financiamento (re)inventadas

A revolução digital impulsionada pelo rápido avanço tecnológico da internet tem trazido importantes mudanças de paradigma no mercado. A proliferação dos dispositivos móveis, assim como o aumento das velocidades de conectividade ou as redes sociais, acarretam uma inevitável aceleração dos períodos tecnológicos, de tal forma que as oportunidades de implantação de novas estratégias e introdução de novos produtos são uma constante.

O crowdfunding é uma dessas estratégias ao dispor dos empreendedores, com as quais empresas conseguem angariar os fundos necessários à criação e desenvolvimento do seu projeto, tudo através de plataformas na internet.

Como se percebe, são várias as startups que surgem todos os anos para dar resposta a necessidades de financiamento das empresas numa ótica distinta à tradicional. Uma delas é a Raize, uma bolsa de empréstimos onde são as pessoas que financiam as empresas, com custos reduzidos e sem burocracias, num processo onde cada investidor tem oportunidades de retorno acima dos 6,3%. Nada mau…

Para este ramo em particular não creio ser muito difícil fazer previsões. Como em qualquer área de negócio, serão fatores como a disputa pelas margens e pelo controlo das bases de dados de clientes, assim como a criatividade, simplicidade de processos e a disponibilização do melhor serviço ao cliente que irão marcar este mercado e abalar cada vez mais a banca tradicional. Uma vez mais, será a seleção natural a funcionar, como Darwin sabiamente nos mostrou.

Autor: Sérgio Pereira, diretor geral da plataforma gratuita de simulação de produtos financeiros ComparaJá.pt