As divergências nos Bancos Centrais

BCE
Cesar Pics, Flickr Creative Commons

No início do ano, quando a BlackRock publicou o seu “Four Themes for 2014”, os especialistas selecionaram as obrigações como centro das atenções: a divergência política no Banco Central, a desalavancagem na Europa, o encontro do equilíbrio entre acionistas e obrigacionistas e ainda a identificação de diferenças nos mercados emergentes eram os temas centrais do ano. Agora que estamos quase no último trimestre do ano, os especialistas acreditam que a divergência entre os Bancos Centrais passou a ser o centro das atenções.

Na última publicação da entidade, os especialistas afirmam que o “Banco Central Europeu (BCE) está a ser obrigado a adotar mais medidas de flexibilização para estimular as economias da zona euro; situação semelhante acontece com a política do Banco do Japão que não está muito longe da europeia”. “Já a FED e o Banco de Inglaterra (BoE) estão cada vez mais a olhar para a porta de saída”, continuam. Nos “mercados emergentes, a política monetária dos mercados desenvolvidos terá um grande impacto”.

Banco Central Europeu, o principal ator

Em 2014, o BCE tem sido o ator principal. Para a BlackRock, o “assunto da política monetária divergente não passou de muita conversa e pouca ação”. O abrandamento cíclico no segundo trimestre, especialmente na Alemanha, mudou a forma de estar do BCE. “A pressão sobre as expectativas da inflação forçou a instituição a agir, não uma, mas duas vezes, num esforço de afastamento das preocupações sobre a deflação”, sublinham.

Para a gestora norte-americana haverá uma “busca renovada dos investidores por rendimento”. “Os níveis baixos dos rendimentos das obrigações na Europa vão fazer com que os investidores europeus procurem rendimentos noutros lugares”, como por exemplo nas obrigações mundiais ou noutras classes de ativos.

Quanto aos países periféricos, “a volatilidade dos spreads na região vai fazer com que o progresso económico seja divergente e serão levantadas algumas questões sobre as reformas a adoptar”, explicam.

Sobre o “sovereign quantitative easing (QE)”, os especialistas julgam que “há muita especulação, depois de terem sido utilizados todos os instrumentos de política monetária disponíveis,sendo que o BCE não terá outra opção senão flexibilizar o QE Soberano".

E o Japão?

No Japão o grande objetivo será a inflação, embora não se possa descurar um aumento do programa de ‘quantitative and qualitative easing’. O grande objetivo do governo nipónico é situar a inflação nos 2%, no entanto desde que se iniciou um maior aumento do consumo no território que este indicador não passou dos 1,5%.

Os especialistas da BlackRock apontam, também, para uma “expansão do programa de ‘quantitative and qualitative easing’, com o aumento das compras de longo prazo das obrigações nipónicas a ter início nos primeiros meses do próximo ano”.

Dólar em caminho ascendente

A política divergente, realizada pela FED, está a impulsionar o dólar face às principais moedas internacionais. Os especialistas da entidade  acreditam que as taxas de juro vão aumentar até meados do próximo ano.

Sobre os últimos dados, a entidade afirma que “no primeiro trimestre foram fracos, mas os bons sinais nos salários mantiveram a FED calma durante todo o ano”. “As yields a dez anos têm sido menores do que o esperado, mas a verdadeira história é que as US Treasuries têm sido o grande pivot na curva dos juros”, afirmam.

BoE pode iniciar subida de taxas

O grande consenso é que o Reino Unido será o primeiro a aumentar as taxas de juro.  A BlackRock acredita precisamente que será isso que vai acontecer. “Essa ideia foi reforçada pelo Governador do BoE em junho passado quando afirmou que os mercados podem ser demasiado complacentes em termos de tempo de previsão, o que abre uma janela para o aumento ainda este ano”, afirmam. Sobre a moeda os profissionais acreditam que a libra esterlina vá crescer face à moeda única europeia.

Mercados emergentes mais divergentes

“As divergências nas políticas monetárias têm impactos profundos para as moedas e para as taxas de juro dos países dos mercados emergentes”, afirmam os especialistas. O facto do dólar ficar mais forte poderá ter um grande impacto nestes mercados. A velocidade do ajustamento das taxas de juro no mercado norte-americano e o seu impacto a longo prazo vão ser fundamentais para o desempenho destes mercados nos próximos tempos. “A política monetária divergente irá moldar o desempenho dos ativos no próximo ano nos mercados emergentes”, afirmam.

Já as moedas continuam a ser o principal amortecedor dos mercados destas regiões, apesar de se encontraram mais sensíveis a um ajuste rápido às taxas de juro norte-americanas.

 

Publicação BlackRock da autoria de Owen Murfin: Managing Director Portfolio Manager on BlackRock’s Global Bond Portfolio Team; Stephen Cohen: Managing Director
Chief Investment Strategist, International Fixed Income and iShares EMEA; Ian Winship: Managing Director Head of Sterling Bond Portfolios e ainda Pablo Goldberg: Managing Director Senior Strategist, Emerging Market Debt