Arrefecimento Global

Francisco_Carneiro_BPI
Revista Prémio

À semelhança do ano passado a Funds People Portugal pediu-me para escrever umas linhas sobre o que se espera para 2015 nos mercados financeiros.

No artigo que escrevi no ano passado por esta altura eu referi entre outras coisas que:

“Não há inflação e o crescimento é fraco. Estamos num cenário com algumas semelhanças ao Japão.” 

Mal eu sabia quanto acertada estava esta frase. Isto foi o que realmente aconteceu em 2014 e como explica a excelente casa de Research de Hong-Kong GaveKal, quando não há crescimento mais vale estar em dívida do que em acções!

“Otherwise, in a deflationary environment with no or low growth, there is no real reason to pile into equities. One does much better in debt.”

O ano que está a acabar foi uma decepção em termos de crescimento, a inflação na Europa está perigosamente a aproximar-se de zero, as acções medidas pelo MSCI estão próximas do valor do final de 2013, ou seja não subiram. Os investimentos em dívida soberana e em obrigações de bons riscos acabaram por ser os melhores investimentos em 2014. Os piores foram os mercados emergentes que viram o preço das commodities descerem acentuadamente.

Olhando para o mundo e tentando ver o Big Picture o que é que eu vejo?

a) As pessoas gostam de comprar o melhor. Os líderes de cada segmento estão a esmagar os players locais (IKEA fez desaparecer o Vassoureiro e agora a Moviflor). A Globalização é muito boa para as grandes empresas e para as que dominam o seu nicho. O mundo está a ficar mais parecido, mais gente tem acesso à internet, mais gente fala inglês, vê a CNN e assiste aos mesmos vídeos no YouTube. O conhecimento local que antigamente dava uma grande vantagem ao “local” está a desaparecer aos poucos. Até as leis se estão a uniformizar em grande parte do mundo (Exemplo: União Europeia).

b) A automação/robotização faz com que uma linha de montagem possa produzir 100 ou 100,000 num dia. É uma questão de programar a máquina para fazer mais! Este ainda é um fenómeno em ascensão, ainda está a começar. Neste mundo novo se for necessário produzir mais não é necessário contratar mais trabalhadores basta carregar num botão. Esta tendência faz com que a remuneração do factor trabalho venha a cair desde os anos 70! (ver gráfico Wage and salary as....)

c) Nunca foi tão bom ser número 1. O Frank Sinatra conseguia colocar 4 ou 5 mil pessoas numa sala numa boa noite. Hoje em dia a Beyonce consegue vender através de internet 1,000,000 downloads num espaço de horas. Do mesmo modo o Cristiano Ronaldo hoje ganha mais do que o Eusébio, Pelé ou Maradona ganharam nas suas épocas. No mundo das empresas o número 1 ganha mais, pode investir mais, contratar os melhores e até construir uma marca/Brand. Os maiores tendem a ficar cada vez maiores quando investem de volta no seu negócio (Amazon). (Ver gráfico com a evolução da riqueza que está concentrada nos 0,1%)

d) Com ganhos de produtividade cada vez maiores o preço das commodities tende a descer o que aliás já vem acontecendo há 100 anos. Existem choques e desvios mas esta trajectória é o big picture. Fazer mais com menos é o objectivo do Capitalismo!

e) Neste mundo tão racional em que o melhor está a ganhar nem tudo é lógico. As marcas e o luxo conseguem cobrar e ter um mercado em que os preços sobem todos os anos. Aqui não há deflação. Ter um Brand é a melhor coisa que um negócio pode almejar. Produzir por 10 e vender por 1000 como acontece com as marcas de relógios é um milagre! As grandes marcas continuam a estar bem neste mundo sem crescimento (Ver gráfico tirado da revista Economist. Se tirarmos as empresas de luxo do índice S&P a diferença fica ainda maior).

Agora que estamos em 2015 o que devemos fazer?

O mundo desenvolvido onde estão os grandes líderes mundiais continua a esmagar os pequenos.

A América e a Alemanha são os países que mais beneficiam da globalização. É ali que se concentra o research, é ali que se concentram as melhores empresas e no caso dos Estados Unidos as melhores universidades. É na América que se está a desenhar o futuro. São estas empresas que conseguem atrair os melhores e pagar aos melhores. É aqui que as empresas são obcecadas pelo cliente e pelas vantagens oferecidas ao cliente.

Os mercados emergentes continuam a ter muitos problemas pois tudo o que os seus habitantes desejam ter não é produzido lá! A situação dos mercados emergentes pode ser corrigida com a queda das suas moedas o que já aconteceu em 2014 e deverá continuar a acontecer em 2015. Isto permite equilibrar a procura por produtos estrangeiros (ficam mais caros) e tornar o produto local mais barato. Aqui as empresas limitam-se a tentar sobreviver. Quando a sobrevivência está em risco o cliente já não é uma preocupação.

Na europa os países que não são competitivos (Europa do sul) e que não podem desvalorizar a sua moeda por estarem no euro como os países emergentes vão continuar a ter grandes problemas. As tensões sociais vão aumentar. A solução passa pela Europa do norte dar dinheiro à Europa mais fraca ou aos fracos abandonarem o Euro. Não vai ser bonito!
O crescimento Global não deverá surpreender pela positiva pelo que as taxas de juro e os instrumentos de dívida continuarão a ser úteis numa carteira.

Existem algumas estratégias específicas para beneficiar destas tendências que acabo de referir. O Mundo está morno e os índices de acções em geral podem não subir muito, mas no meio desta “pasmaceira” há ganhadores e perdedores. É aqui que se pode acrescentar valor.

Estas e outras ideias são exploradas mais a fundo no meu blog pessoal

Um bom ano de 2015 e bons investimentos