André Themudo: “Os clientes institucionais têm reforçado cada vez mais a procura por ETFs de obrigações”

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Há cinco anos na BlackRock, André Themudo faz parte da equipa de vendas ibérica da entidade, que cobre Portugal, Espanha e Andorra, estando mais enfocado na parte passiva do negócio em Espanha, e abordando os dois “braços” de atividade (parte ativa e parte passiva) em Portugal.

Com este track record, o profissional tem experiência suficiente para responder àquela que é uma pergunta frequente dirigida aos sales ibéria: “Quais as principais diferenças entre os clientes portugueses e os clientes espanhóis?”. André Themudo começa por dizer que “o mercado português é mais sofisticado do que o mercado espanhol, no sentido de ser mais complexo e especializado”. Justifica-o pelo facto dos portugueses terem começado a “adoptar muito antes dos espanhóis produtos mais complexos, como fundos alternativos e ETFs”.

Tendências de mercado

Os últimos meses de volatilidade permitem, também, tirar algumas conclusões sobre o comportamento do mercado português e traçar tendências. André Themudo testemunha “resgates ao nível dos fundos de investimento, principalmente por parte dos investidores de retalho”. Movimento avesso, diz, têm assistido no que toca aos clientes institucionais, pois têm entrado em fundos de gestão passiva, e “demonstrado um grande interesse por ETFs”. Lembrando aquela que tem sido também uma tendência europeia, o vendas destaca que os ETFs de obrigações têm dado nas vistas, recolhendo uma grande fatia dos fluxos, que se repartem, ainda, com o interesse pelos ETFs de commodities, como os de petróleo e ouro.  No que toca aos fundos de investimento de gestão ativa, têm presenciado maiores volumes de resgates em “fundos mais arriscados, como por exemplo de ações europeias”, muito embora recentemente estes tenham voltado a estar no radar dos investidores.

Em termos de perspectivas de mercado, da BlackRock estão positivos na Europa, nomeadamente em ações europeias, e neutrais a negativos em obrigações governamentais. Ao nível das commodities acredita que “poderão existir algumas oportunidades”, atuando “como bons descorrelacionadores de rentabilidades”. Lembra também que o sentimento de mercado vai tendo pontos de mudança “ao sabor” das reuniões dos Bancos Centrais, o que leva a mudanças nos fluxos de entrada nos fundos. “O ponto forte da BlackRock reside no facto da oferta ser muito ampla, e conseguimos ir ao encontro das necessidades dos clientes. Os investidores neste tipo de contexto, potencialmente, saem de ativos de maior risco e entram em obrigações soberanas: nós temos oferta nos dois sentidos”.

A procura no mercado português

No mercado português em concreto, a maior procura pelos fundos da casa recai nos fundos multiativos e nos fundos com enfoque no dividendo (sentida principalmente nos clientes de retalho). Os clientes institucionais, por seu turno, “têm reforçado cada vez mais a procura por ETFs de obrigações, principalmente ao nível da dívida corporativa europeia, e high yield também europeu”. Outra vertente de procura são os ETFs smart beta, ou seja, “todos os ETFs que não são ponderados por capitalização em bolsa, mas sim por factores de risco”. A grande procura a este nível acontece nos ETFs de minimum volatility.

O fulgor da tecnologia

André Themudo reforçou ainda a gama de fundos da casa geridos através da temática de Big Data (utilização de informação agregada para a deteção de tendências). “Temos fundos de retorno absoluto especializados nesta temática. Como a informação disponível a este nível está concentrada nos EUA, os fundos que mais se podem aproveitar estão expostos ao mercado norte-americano”. Fala em concreto do BSF Americas Diversified Equity Absolute Return, que aproveita a temática, “tentando gerar retornos descorrelacionados com o resto do mundo, e proporcionar uma volatilidade mais controlada do que aquela que se vive atualmente no mercado acionista”. “O cliente português, por norma, é adepto deste tipo de fundos: menos voláteis, mais seguros e com retornos estáveis”, reitera.

Numa análise mais futurista sobre a indústria de gestão de ativos, o vendas da BlackRock acredita que serão dois os grandes drivers deste negócio daqui para a frente: a regulação e a tecnologia. A propósito desta última, falou-se do tão “badalado” tema do robot advising. “Principalmente nos EUA, acredito que as empresas estão cada vez mais olhar para este segmento, e não o vemos como concorrência direta”, refere. “Será um assessoramento mais barato e potencialmente mais dirigido aos clientes de retalho”, explica.

Adaptação do negócio à legislação

MiFiD II é obviamente um assunto de grande importância para as gestoras internacionais de maior dimensão. Na ótica da BlackRock “todo o tipo de regulação que traga mais transparência é bem vinda” e, neste caso em específico, pode estar aberta uma pequena brecha para que o negócio de ETFs se desenvolva ainda mais. “Creio que os clientes se estão a adaptar a esta nova realidade, com os seus modelos de distribuição já adaptados, apesar disto representar para muitos deles não ter as retrocessões”, considera, referindo que se estão a posicionar de uma “maneira natural, com uma oferta de produto que serve o propósito de entrada da medida em vigor”.