Alguns gestores aproveitam a incerteza na Europa para "irem às compras"

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view-askew, Flickr, Creative Commons

Costuma-se dizer que é durante as crises que nascem as maiores oportunidades. No caso da indecisão grega, as oportunidades aparecem por causa do aumento de volatilidade tanto nas bolsas europeias como entre as obrigações da região: é, pelo menos, o que um grande número de gestoras internacionais entende. Luca Paolini, diretor de estratégias da Pictet AM, coloca as quedas dos últimos dias num contexto da correção de 10%, acumulada pelas ações da Zona Euro desde abril, que vem acompanhada por momentos de fortes vendas nas obrigações no princípio de maio e junho. Desta forma, apesar de se terem assistido a vendas na última semana, Paolini qualifica a reação como “relativamente moderada”, e interpreta-a como um sinal de que “a comunidade investidora tem fé na capacidade das autoridades da Zona Euro para conter as consequências de uma saída da Grécia”.

O especialista acredita que “a recente queda das ações europeias e a liquidação da dívida soberana periférica apresentam oportunidades de compra”. Para além disso, destaca como razão adicional para continuar a comprar a dívida do sul da Europa o facto da “Itália e da Espanha crescerem a um ritmo mais rápido do que a Alemanha, com reformas que devem elevar a produtividade”. Por outro lado, da entidade mostram a sua preferência pelo extremo longo da curva de obrigações soberanas, como posicionamento face à expectativa de que a Reserva Federal aumente as taxas de juro muito gradualmente, o que teria um maior efeito nos vencimentos a curto prazo.

Caso a situação atual piore e aconteça uma saída desordenada da Grécia da Zona Euro, Paolini entende que isso poderá “precipitar uma liquidação de obrigações e ações da Itália e Espanha a curto prazo, pois os investidores tratariam de quantificar o risco de uma saída destes países da Zona Euro”. Mas também considera oportunidades neste contexto: “No caso de turbulências significativas aumentaríamos a exposição a bancos em Itália, Espanha e Portugal, bem como a obrigações com vencimento a longo prazo destes países”.

À margem dos problemas da Grécia, Paolini manifesta a forte crença dos especialistas da Pictet de que “o caso fundamental das ações da Zona Euro é muito sólido”, visto que “o crescimento económico na região está próximo dos 2% anualizado e as condições de liquidez são extremamente fortes”. A isto acrescenta a desvalorização do euro e os indícios do crescimento de lucros, que estima em 14% para este ano. O estratega descarta a hipótese de no longo prazo uma hipotética saída grega ter um efeito significativo sobre a sua previsão para as ações europeias: da entidade suíça esperam que esta classe de ativos gere um rendimento anual de 5% até 2020. Também preveem “uma considerável valorização do euro face ao dólar durante os próximos cinco anos”. Relativamente à moeda única, da Pictet  mantêm, de momento, a uma posição neutral “pois qualquer movimento de queda provavelmente será breve dada a posição excecionalmente bear dos investidores em relação à moeda única, que negoceia entre 20% e 25%, abaixo do valor razoável relativamente ao dólar”.

Jean-Charles Meriaux, presidente e diretor de investimentos da DNCA Finance (gestora filiada da plataforma de distribuição da Nataxis Global AM), comenta que “a forma como as bolsas reagiram na segunda-feira foi bastante limitada; eu esperava uma queda de 10%”. A postura da entidade é que “dependendo do resultado do referendo podemos aumentar entre 2% e 3% a exposição a obrigações ao comprar dívida de Espanha e Itália”. Mariaux coloca a tónica na necessidade de ter liquidez em carteira para aproveitar momentos de volatilidade como o atual e para detectar bons pontos de entrada: “É muito importante ter a capacidade para poder mobilizar 200 ou 300 milhões de euros rapidamente”. No entanto, o especialista afirma que “a crise grega vai ser um bom momento para comprar durante os próximos dois ou três meses, já que a Grécia não é sistémica; o seu PIB é apenas nove vezes maior do que o do Chipre e equivale a 2% do PIB da Zona Euro; não acreditamos que haja risco de contágio”.

David Zahn, responsável pela equipa de ações europeias da Franklin Templeton Investments, manifestava na segunda-feira, por altura do Fund Forum celebrado no Mónaco, que a instabilidade provocada pela ruptura das negociações terá um efeito controlável e passageiro: “A Europa está bem preparada para superar esta crise. A Grécia não tem assim uma importância tão significativa, e espero que o BCE seja suficientemente energético para estabilizar os mercados com o apoio do Eurogrupo”. O especialista também concorda que a previsível volatilidade nos periféricos pode oferecer uma boa oportunidade de compra: “Aparecerão oportunidades para os investidores durante os próximos dias, especialmente para Espanha e Itália”, sublinha, embora alerte sobre a possibilidade de que as obrigações portuguesas possam ser das mais afectadas pela crise grega.

David Stubbs, também mantém uma postura construtiva. O estratega de mercado global da J.P. Morgan AM afirma que “já sabíamos que a situação política provocaria volatilidade entre os ativos europeus este ano”. O principal cenário com o qual continua a trabalhar na entidade é o de uma recuperação económica acompanhada de agressivas políticas monetárias, que apoiarão o crescimento dos lucros empresariais.Tanto as ações como a dívida das empresas europeias de qualidade deverão comportar-se bem neste tipo de contexto, recompensando os investidores que permaneçam investidos. E se os ativos de risco registarem fortes correções nos próximos dias, consideraremos essa situação como uma oportunidade de compra”, conclui.