A incerteza do mercado requer flexibilidade

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journeyman62, Flickr, Creative Commons

Numa altura em que o comportamento dos mercados de obrigações desafia todas as teorias que os académicos têm vindo a estudar e ensinar desde as origens dos mercados financeiros, a Fidelity International trouxe a Portugal Andrea Ianelli e Steeve Bramley, diretor de investimentos de fixed income e especialista de produto de fixed income, respectivamente, para apresentar aos clientes nacionais a visão da entidade para estes mercados e uma estratégia de investimento em obrigações flexível.

Perspetivas

“Tem sido um excelente ano ao nível do segmento fixed income. Tem batido todas as expectativas”. Deu assim início à sua intervenção Andrea Ianelli justificando o bom comportamento do mercado com aquele que o profissional considera ser o tema número um do momento: a política monetária.

Os bancos centrais estão a tornar-se um key player nos mercados de fixed income nos dias de hoje, tanto em obrigações soberanas como obrigações corporativas investment grade, e continuam a fomentar uma incessante procura por yield entre os investidores que precisam de encontrar uma fonte de rentabilidade”, salienta Andrea Ianelli.

Para o especialista em obrigações chegou ao fim o tempo em que os bancos centrais conseguiam manusear as suas ferramentas de política monetária independentemente do que se passava nas restantes regiões: “As interações no sistema financeiro, seja entre economias ou regiões, não permitem aos bancos centrais darem-se ao luxo de serem demasiado independentes uns dos outros”.

Os fundamentais do segmento são outro tema que preocupa o profissional. Aponta que “apesar dos esforços dos bancos centrais em todo o mundo, ainda não vimos um impacto significativo no crescimento ou na inflação, e o stock de dívida continua elevado”. Acrescenta que “no espaço do crédito, os fundamentais em determinadas áreas do mercado estão a deteriorar-se, à medida que nos movimentamos no sentido de uma fase avançada do mercado de crédito”.

Por fim, surge a volatilidade como factor de relevo, já que, “o facto dos bancos centrais estarem envolvidos nos mercados de fixed income, inundando o mercado com liquidez não significa que a volatilidade não vai voltar”, pelo que “estar diversificado é mais importante do que nunca”, refere o diretor de investimentos da Fidelity.

Os bancos centrais

Nos EUA, mesmo assumindo o risco de uma subida das taxas de juro ao ritmo para o qual o consenso aponta, este será um dos mais lentos ciclos de contração de política monetária da história o que faz com que na Fidelity estejam bastante confiantes de que não verão uma “variação significativa das yields, a não ser que vejamos um ressurgir da inflação e investimento”.

Já na Europa o susto do verão foi o Brexit. Mas para Andrea Ianelli “so far so good”.

Para o profissional, vimos “poucas repercussões no resto da Europa, a confiança mantem-se elevada,  e nas várias economias europeias vemos uma boa subida do consumo”. Adicionalmente, é da sua convicção que o BCE continuará ativo no mercado de obrigações mesmo depois de março de 2017, o que representa um suporte para o segmento.

No Reino Unido, por seu turno, as novas políticas de quantative easing anunciadas recentemente significam para o diretor de investimentos da Fidelity que “há um novo comprador, insensível ao preço”, o que representa também um suporte na região. A visão da casa é no entanto de subponderação nas Gilts, já que apesar de o banco central estar ativo no mercado deveremos “provavelmente ver uma subida da inflação”, ao mesmo tempo que “o governo deverá enfrentar alguns desafios no futuro próximo”.

No entanto, no geral, o profissional mostra-se cauteloso em duration, especialmente no core da europa onde é inexistente “uma almofada para amenizar as quedas no caso de um sell-off”, pelo que aponta preferências para a periferia.

No mundo do crédito, o segmento investment grade continua a ser o “sweet spot”, segundo o especialista. Este considera que o mercado dá “acesso a alguma duration enquanto beneficia das compras dos bancos centrais”, dando especial destaque ao crédito IG europeu e britânico. Nos EUA mostra-se neutral, considerando que “as valuations se ajustaram”.

No segmento high yield é na europa que o profissional vê as melhores oportunidades, especialmente porque “o BCE está a adquirir a parte superior, em termos de qualidade, do universo high yield europeu”. Isto deve-se à exigência de apenas um rating  investment grade para que uma emissão possa ser adquirida pelo banco central, mesmo que na média seja um ativo classificado abaixo desse nível.

A estratégia flexível da Fidelity

Com esta envolvente carregada de riscos - mas também com algumas oportunidades - seguiu-se a apresentação do fundo FF Flexible Bond Fund, por parte do especialista de produto no segmento fixed income da Fidelity, Steve Bramley.

Falou de um produto que, segundo ele, procura satisfazer as três necessidades dos investidores em obrigações, que “procuram uma fonte de rendimentos estável, segurança ou baixa volatilidade e diversificação, ou baixa correlação com ações e outros ativos de risco”. Neste sentido, a gestão tem como guia uma estrutura blend ‘eficiente’ de obrigações soberanas (20%), high yield (20%) e obrigações corporativas investment grade (60%), que tem provado estatisticamente proporcionar retornos superiores ajustados ao risco ao longo do tempo. Sendo esta alocação uma estrutura guia, ou seja não estática, a gestão usufrui da sua flexibilidade ao longo do tempo em resposta aos diversos riscos e choques de mercado. A título de exemplo, Steve Bramley descreveu que perante o potencial choque mais recente (o Brexit) foi reduzida a duration de 7 anos para 5 anos na carteira de Gilts em meados de junho, estratégia que foi revertida overnight, através de uma posição sintética, que permitiu beneficiar do rally que se deu no mercado com os resultados do referendo.

Observamos também uma tendência global de aumento da ponderação do segmento high yield nas carteiras.  A casa de investimentos observa um regresso da procura deste segmento por parte dos investidores, muito embora não tenham vindo a assistir “a um volume significativo de novas emissões”.