A descoberta do malte

Durante algum tempo, o whisky foi, para mim, aquele líquido palidamente amargo bebido com muito gelo (simples ou com Coca-Cola) durante as minhas saídas noturnas dos tempos de estudante. Era, essencialmente, um refresco alcoólico alternativo às quantidades exageradas de cerveja injeridas habitualmente. Acaba por fazer sentido, uma vez que o whisky não é mais do que cerveja destilada. Bem, o envelhecimento em cascos de carvalho confere-lhe um conjunto de aromas e sabores bem mais complexo do que à cerveja, mas adiante.

Desde então, tem sido um percurso de descoberta de novas marcas e novas destilarias, passando do whisky novo para o velho (bebido em balão, só com gelo ou puro), até chegar ao whisky de malte.

Associo o whisky de malte a um serão bem passado, com boa companhia, conversando e ouvindo música, depois de uma bela refeição. Saborear malte traduz-se num ambiente sem stress, repousante, de lazer. O whisky de malte não se bebe, saboreia-se, descobre-se.

Existem maltes para todos os gostos, feitios e bolsas. Há uns maltes com final seco e outros com final prolongado, uns encorpados e outros mais leves, uns muito escuros  e outros quase sem cor, uns mais frutados e outros a saber a madeira, uns perfumados e outros pungentes, uns maltosos e outros fumados e iodados. É esta riqueza na variedade de aromas e sabores que confere ao whisky de malte a sua verdadeira essência e mistério.

Não existe uma maneira “correcta” de beber um whisky de malte. Os escoceses bebem-no preferencialmente com um pouco de água sem gás (a quantidade de água depende do gosto de cada um). O uso de gelo é uma forma de adicionar água, mas é um acrescento pouco controlado, podendo o whisky estar demasiado aguado no final. Um pouco de água permite suavizar o álcool ao mesmo tempo que evidencia alguns sabores e aromas, “abrindo o whisky”, tornando muito mais interessante a degustação. Como se diz na Escócia: “Never drink whisky without water, but never drink water without whisky.”